Título: Empresas exportadoras cortam investimento
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2005, Economia & Negócios, p. B4

Incertezas sobre taxa de câmbio e perda de rentabilidade dos produtos mudam a rota do planejamento

As empresas exportadoras brasileiras acenderam a luz amarela em relação a investimentos necessários à continuidade das vendas externas nos próximos anos. O principal motivo do alerta é a incerteza sobre a taxa de câmbio, cada vez mais desfavorável às exportações. As associações e entidades que representam os exportadores dizem que as projeções ainda são imprecisas, mas confirmam a afirmação feita pelo ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, na semana passada, de que já há setores da economia que começam a rever para baixo seus planos de investimentos para exportarem em 2006 por causa da perda de rentabilidade em alguns mercados. O coordenador da Unidade de Pesquisas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato Fonseca, disse que os atuais superávits registrados na balança comercial ainda estão refletindo a busca de mercados externos iniciada há dois ou três anos. Ele ressalta que a manutenção desses clientes de produtos brasileiros dependerá da constância nas vendas.

"Para isso, é preciso haver investimentos também constantes em propaganda, design, adaptação a um determinado local e isso o empresário só faz se vislumbrar retorno e rentabilidade para os quais a taxa de câmbio é importante", afirmou Fonseca.

Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis (Sinditêxtil) de São Paulo, Rafael Cervone Netto, é cedo para fazer projeções, mas já ocorre uma retração nos planos de investimentos. Cervone Netto disse que informações recentes que chegaram à entidade dão conta que algumas das grandes empresas brasileiras do setor têxtil, que têm plantas em países latino-americanos, pretendem investir juntas no ano que vem cerca de US$ 300 milhões para expandir suas produções fora do Brasil.

Cervone Netto explicou que essa opção tem relação direta com a taxa de câmbio mais favorável à exportação nesses países, com acordos bilaterais firmados com Estados Unidos e Europa, além de menor carga tributária sobre a exportação. "O câmbio isolado não é o problema, mas agrava bastante a situação no cenário brasileiro de taxas de juros e tributos altos", completou o presidente do Sinditêxtil.

AGRONEGÓCIO

Outro setor que já projeta uma redução futura no apetite exportador é o agronegócio, apesar dos sucessivos recordes de exportações. Dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) mostram que em julho e agosto deste ano, em relação ao mesmo período de 2004, houve uma redução de 35% nos recursos aplicados pelos produtores na compra de máquinas, equipamentos e insumos necessários para o plantio da safra 2005/2006. Os investimentos nesses itens caíram de R$ 1,3 bilhão para R$ 843 milhões na comparação.

Já o número de financiamentos bancários tomados entre julho e agosto pelos agricultores para custear o plantio e a colheita da safra caíram de R$ 6,6 bilhões, no ano passado, para R$ 4 bilhões em 2005. "Isso mostra que os produtores estão projetando redução na área plantada e na rentabilidade dos produtos", comentou o chefe do Departamento Econômico da Confederação Nacional da Agricultura, Getúlio Pernambuco. Ele observa que o crescimento das vendas externas na agricultura já estão perdendo fôlego.