Título: 'Crime organizado se espalhou'
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2005, Nacional, p. A6

Garibaldi Alves reage a críticas de Lula dizendo que o tema da CPI dos Bingos não são só bingueiros, mas a lavagem de dinheiro Rosa Costa

Criticado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por ter convocado seu chefe de Gabinete, Gilberto Carvalho, para depor na CPI dos Bingos, o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) reagiu também de forma dura, explicando que a CPI "apura também lavagem de dinheiro e o crime organizado" - e não apenas a atividade dos bingueiros. Foi além, no seu contra-ataque: "Os tentáculos do crime organizado se espalham de tal maneira que chegam ao jogo, aos transportes, à coleta do lixo". Assim, o esclarecimento de supostos esquemas de corrupção nessas atividades, na prefeitura de Santo André em 2002, fazem todo sentido, segundo ele. Para Garibaldi, só critica a CPI quem não tem noção "da extensão dos tentáculos do crime organizado". Político veterano - exerce o segundo mandato no Senado, já foi duas vezes governador do Rio Grande do Norte, uma vez prefeito de Natal e quatro vezes deputado estadual - Garibaldi Alves citou o próprio presidente para justificar suas decisões: "O presidente deveria recordar o que ele mesmo disse: a corrupção tem de ser apurada venha de onde vier, doa a quem doer". Ele falou também sobre os motivos da convocação de Gilberto Carvalho: "O presidente achou que seu secretário particular deveria ser poupado da acareação com os dois irmãos de Celso Daniel. Mas não havia como atender suas expectativas diante do que foi dito por João Francisco e Bruno Daniel (segundo eles, Carvalho teria admitido que levava o dinheiro proveniente da corrupção na prefeitura para o deputado José Dirceu)", afirma. "Também estranhei o fato de ele desconhecer o que está sendo apurado com relação ao contrato da Caixa Econômica Federal com a Gtech - que, segundo o Tribunal de Contas da União, já deu à Caixa prejuízo de R$ 433 milhões", critica.

Como o senhor responde aos que acusam a CPI dos Bingos de não ter um alvo definido de investigação?

A CPI apura também lavagem de dinheiro e o crime organizado. Os tentáculos do crime organizado se espalham de tal maneira que chegam ao jogo, aos transportes, à coleta do lixo. É uma vasta rede de corrupção que dificulta uma seleção.

A crítica de Lula à CPI, de que nenhum bingueiro foi chamado para depor, indica que ele não percebeu a abrangência da investigação?

O presidente deveria recordar o que ele mesmo disse: "a corrupção tem de ser apurada venha de onde vier, doa a quem doer". Também estranhei o fato de ele desconhecer o que está sendo apurado no contrato da Caixa com a Gtech - que, segundo o Tribunal de Contas da União, já deu à Caixa um prejuízo de R$ 433 milhões.

A reação dele não foi por causa da segunda convocação, desta vez para ser acareado, de seu chefe de Gabinete, Gilberto Carvalho?

Também. O presidente achou que seu secretário particular deveria ser poupado da acareação com os irmãos de Celso Daniel. Não havia como atender a suas expectativas diante do que foi dito por João Francisco e Bruno Daniel.

A CPI terá condições de apontar quais teriam sido os mandantes da morte do prefeito?

Não. O que a comissão pode fazer é apurar se houve, por trás da morte, um esquema de corrupção. Isso pode ajudar a encontrar o mandante.

O que mostram os dados colhidos sobre a morte de Daniel?

Há indícios fortes de que havia esquema de corrupção. Ao que parece, Daniel enfrentava o desvio dessa corrupção para outros fins que não o de caixa 2 do PT.

Com relação às denúncias ligadas à gestão de Antonio Palocci (ministro da Fazenda) na prefeitura de Ribeirão Preto, o senhor acha que há motivos para a CPI ouvir o ministro ou concorda com a cautela da oposição quanto aos reflexos na economia?

Essa preocupação procede. Sua convocação só deve ser marcada quando as apurações estiverem adiantadas. Tem a acusação que o (Rogério) Buratti (ex-assessor de Palocci em Ribeirão) fez, de que a Leão Leão dava a Palocci R$ 50 mil mensais que eram repassados ao PT, mas precisamos avançar na apuração.

Um dos momentos mais agitados da CPI foi a acareação com os cinco envolvidos nos contratos da Gtech. Os depoimentos ajudaram nas investigações?

Sim, porque desvendaram os interesses contrariados de dois esquemas chefiados por Waldomiro Diniz e de Buratti. Eu os tenho como executores da operação, mas ainda não podemos identificar quem estava por trás.