Título: Baixo comparecimento de petistas às urnas ameaça vitória de Berzoini
Autor: Vera Rosa Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2005, Nacional, p. A4

Lula prestigiou a eleição no PT, ao contrário dos militantes; cálculos indicam que quórum caiu 53% em relação ao 1.º turno

No dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu prestigiar a eleição no PT, os militantes seguiram caminho inverso. Marcado pelo baixo comparecimento de filiados às urnas, em todo o País, o segundo turno da eleição para escolha do presidente do PT, realizado ontem, ameaça a vitória do candidato do Campo Majoritário, deputado Ricardo Berzoini (SP), que disputa o comando do partido com o deputado estadual gaúcho Raul Pont, da Democracia Socialista, ala esquerda no mosaico ideológico petista. Cálculos da cúpula do PT indicam que o quórum deve ser de aproximadamente 150 mil votantes, menos da metade dos 315 mil eleitores do primeiro turno, em 18 de setembro. A queda preocupa Berzoini, apoiado por Lula. "Essa eleição é muito difícil e eu não me considero nem vitorioso nem derrotado", afirmou o deputado, no início da noite. "Será uma disputa acirradíssima. Não há favorito com esse quórum", resumiu o secretário de Mobilização do PT, Francisco Campos, coordenador da eleição.

Imprevisível, o resultado do confronto, que deve ser divulgado no fim da semana, desperta muito interesse no Palácio do Planalto. Não sem motivo: o próximo presidente do PT vai comandar o partido até 2008 e, portanto, será o condutor da provável campanha de Lula à reeleição, no ano que vem.

Na capital paulista, onde 21 mil votaram no 1.º turno, 10.367 renovaram o gesto ontem; 7.206 escolheram Berzoini; 2.506, Pont. "Estou muito otimista", disse Pont. Adeptos de sua candidatura avaliam que a vantagem imposta por Berzoini em seu melhor colégio eleitoral ficou abaixo do esperado e Pont será eleito com vantagem de 9 mil votos.

O grupo moderado, porém, acredita que Berzoini chegue à frente com margem de 1% a 2% e atribuiu o baixo comparecimento às urnas ao fato de não ter havido eleição na maioria dos Estados e municípios. Apenas 8 Estados e 108 cidades e diretórios zonais escolheram seus presidentes no novo round.

Na mais grave crise do PT e do governo Lula, motivada pelo escândalo do mensalão, as dificuldades do Campo Majoritário - que abriga dirigentes e parlamentares do partido denunciados por corrupção - são sintomáticas do desalento petista.

AJOELHAR NO MILHO

"Ganhe quem ganhar, não vejo nenhum terremoto pela frente na relação com o governo Lula", amenizou o ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner. "Depois dessa crise, o PT sairá mais maduro, até porque todo mundo se deu conta de que a oposição quer mesmo enterrar o partido e deve haver posição mais equilibrada entre as tendências."

Até agora, porém, não é o que parece. Berzoini e Pont têm opiniões opostas sobre a política econômica, o leque de alianças e até sobre a punição dos deputados envolvidos no escândalo. "Não podemos ser ingênuos e adotar uma postura de linchamento", disse o candidato do Campo. "Por trás disso tudo há a disputa de 2006."

A opinião é compartilhada pela ex-prefeita Marta Suplicy, vice-presidente do PT. Após votar, Marta afirmou que seu partido precisa sair da fase de autoflagelação. "O PT deve parar de ajoelhar no milho, virar a página e partir com tudo para a reeleição do presidente Lula", argumentou Marta. Para ela, "as coisas estão se assentando" e o novo presidente do PT tem de ser um "companheiro do governo". Não um petista de oposição.