Título: O mapa da mina
Autor: Dora Kramer
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2005, Nacional, p. A6

O presidente da CPI dos Correios é petista, mas se opõe à cúpula do PT quando rejeita a tese defendida pelo presidente da República, pelo deputado José Dirceu e pelo presidente interino do partido, Tarso Genro, a respeito da perda de foco das investigações. O senador Delcídio Amaral não só discorda das recentes declarações dos três sobre a ausência de substância nos trabalhos das CPIs, como considera que agora é que elas estão entrando nos eixos. Reduzindo a quantidade de depoimentos e entrando na fase do cruzamento de dados, em breve, dentro de mais ou menos uns quatro meses, a comissão presidida por ele, a dos Correios, estará em plena condição de mostrar o serviço completo: ¿O mapa da origem do dinheiro e das formas de operação dos recursos, vai aparecer¿, assegura.

Para isso o senador considera fundamental a prorrogação do prazo da CPI em cerca de dois meses, a partir de novembro, quando vencem os primeiros seis meses desde a instalação, em julho. Há condições legais para pedir outros seis meses, mas Delcídio Amaral em princípio não vê necessidade, por causa da ajuda das auditorias externas a serem contratadas.

A confrontação de números e depoimentos até agora já fornece ao senador a convicção de que os empréstimos para o PT foram fictícios, não podendo, portanto, ser apontados como as fontes de recursos. De agora em diante, o presidente da CPI aposta nas informações que serão prestadas pelos doleiros operadores das contas dos envolvidos, seja do PT ou dos doadores, e nos dados obtidos a partir da quebra do sigilo das corretoras que atuaram com fundos de pensão de estatais.

O senador não teme a perda de interesse por parte do público que, na opinião dele, terá emoções suficientes às quartas-feiras, quando, pela nova rotina da CPI dos Correios, haverá sempre um depoimentos de alguém envolvido nas operações financeiras do dinheiro do chamado valerioduto.

Quanto à divulgação de relatórios parciais a respeito desse trabalho, Delcídio Amaral não considera possível. ¿Vamos fechar tudo e enviar os indícios todos de uma vez ao Ministério Público ao final da CPI, para que a Justiça, então, amplie e aprofunde as investigações.¿

O senador dá tanta importância aos doleiros porque suspeita que o dinheiro tenha sido mandado para o exterior e, sendo assim, eles poderão ajudar a localizar as fontes de origem . ¿As principais vamos pegar.¿

Quanto aos destinatários, Delcídio Amaral diz que a CPI dos Correios não tem como ampliar a lista daqueles sacadores já identificados. Se forem incluídos novos nomes, será em virtude dos trabalhos da CPI da compra de votos. E quanto ao envolvimento do presidente da República ¿ uma obsessão do noticiário ¿, estaria descartado?

¿Vai depender do que surgir daqui para a frente.¿

Protótipo

O confronto das versões de Waldomiro Diniz, Carlos Cachoeira e representantes da empresa Gtech ontem na CPI dos Bingos não exibiu inocentes e comprovou a utilidade das acareações, pois mostrou na televisão corruptos e corruptores em relato explícito de suas ações. Funcionou assim como uma espécie de quadro de amostra do que possivelmente se passa em muitos escaninhos da administração pública, seja ela de direita, de esquerda, municipal, estadual ou federal.

Recuo tático

Os senadores Efraim Morais e Delcídio Amaral, presidentes das CPIs dos Bingos e dos Correios, chegaram terça-feira na reunião com o presidente do Senado, dispostos ao conflito com Renan Calheiros, que no dia anterior desqualificara as CPIs, dizendo que elas estavam ¿patinando¿.

Os dois presidentes acharam que o presidente da Casa estava querendo ¿crescer¿ politicamente à custa deles, aparecendo como o grande pacificador e responsável pela reorganização dos trabalhos. Na reunião, Renan Calheiros foi ameno, atenuou bem o tom das declarações do dia anterior e seus pares fizeram o mesmo.

Falha vossa

Ao fazer uma reclamação direta sobre a CPI dos Bingos, o presidente Lula mostra que sentiu o golpe da convocação conjunta de seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, e do irmão de Celso Daniel. Ao mesmo tempo, maculou seu autoproclamado apoio majestático às investigações.

Novilíngua

Pode ser só uma coincidência, mas o juiz que recebeu suborno para alterar resultados de jogos de futebol usa o mesmo linguajar que os acusados de corrupção na política.

Em seu mea-culpa, Edilson Pereira de Carvalho qualifica como ¿erro¿ o ato de receber suborno. Da mesma forma são classificados os desvios dos partidos sob investigação das CPIs, chamados de ¿equívocos¿ por seus autores.