Título: Bate-boca na acareação quase vira pancadaria
Autor: Vannildo Mendes e Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2005, Nacional, p. A8

BRASÍLIA - Faltou pouco para o bate-boca dos cincos acareados na CPI dos Bingos virar pancadaria. A certa altura, o senador Romeu Tuma (PFL-SP) teve de pedir aos depoentes que "moderassem o linguajar". O diretor da Gtech Marcelo Rovai chamou o advogado Rogério Buratti de "bandido". Buratti exigiu que ele retirasse a acusação, mas Rovai insistiu. "Não retiro, vocês tentaram tirar dinheiro da Gtech. São bandidos sim!" O presidente da CPI, Efraim Morais (PFL-PB), advertiu o diretor da multinacional: " O senhor não está na Gtech isso aqui é o Congresso e exigimos respeito." Tuma aproveitou o mote para pedir que Rovai apontasse quem no grupo acareado ele considerava bandido. "Se der mais de três é formação de quadrilha", lembrou.

Buratti disse que iria deixar a sala se ele não se retratasse. Efraim ainda provocou, perguntando: "Bandido, em que sentido?" Rovai afirmou que falava no sentido de quem pede dinheiro para obter vantagens.

Separados por menos de 3 metros, os acareados foram divididos em duas fileiras. À direita dos dirigentes da CPI ficaram o advogado Rogério Buratti e o empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Do outro lado, Marcelo Rovai, Waldomiro Diniz e Enrico Gianelli. A divisão separou os que mais trocaram insulto.

Ou seja, Rovai contra Buratti e Gianelli e Waldomiro contra Carlinhos Cachoeira e Rovai. Cada um deles tratando de defender a própria pele.

Waldomiro acusou Rovai de mentir quando afirma que ele tentou impor um intermediário para negociar a renovação do contrato com a Caixa. "É mentira", retrucou o assessor do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. "Vocês me procuraram para oferecer suborno. Fale a verdade. Vocês nem me conheciam, mas meu nome aparece como pessoa mais influente do governo para influenciar no contrato."

Diante da insistência de Rovai, Waldomiro continuou. "Isso é má-fé, cortina de fumaça para encobrir o verdadeiro esquema. Não fui às reuniões a mando do José Dirceu. Fui fazer um alerta de que o meu nome não deveria ser usado no esquema, como me disse Cachoeira. Ele me contou que o meu nome estava sendo usado pela Gtech como facilitador."

O relator da CPI, Garibaldi Alves (PMDB-RN), quis saber quem tinha lhe passado tal informação. Waldomiro disse que "é a maior mentira que ele já falou e agora quer jogar a Caixa contra o Enrico". Rogério Buratti também acusou Rovai de incriminá-lo indevidamente. "O senhor está mentindo há mais de um ano."

O diretor da Gtech disse que sua "história" não ficaria comprometida por esse tipo de crítica. "Sua história está no Chile (onde Rovai vive agora), o senhor não deu certo aqui e foi mandado para o Chile."

Rovai quase gritando para Buratti: "Tenha vergonha na cara. O senhor só me pediu dinheiro." Rovai chamou Buratti e Waldomiro de bandidos.

Waldomiro exigiu que ele retirasse a acusação, mas Rovai insistiu. "Não retiro. Vocês tentaram tirar dinheiro da Gtech. São bandidos sim!"

Em certo momento, Buratti chamou Rovai de corruptor e destacou que foi procurado mesmo depois do contrato assinado, para oferecer propina ao PT. Rovai esbravejou, ameaçou se retirar da sessão e repetiu que Buratti é bandido.