Título: Comissão fará acareação entre Valério e sacadores
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2005, Nacional, p. A10

BRASÍLIA - A CPI do Mensalão decidiu reunir numa única sessão oito personagens-chave do escândalo. A data ainda não está marcada, mas a acareação vai trazer para o Congresso o empresário Marcos Valério e a diretora-financeira de sua agência de publicidade SMPB, Simone Vasconcelos, e colocá-los frente a frente com os seis sacadores mais freqüentes das contas de Valério na agência do Banco Rural em Brasília. O requerimento prevê reunir o ex-deputado Valdemar Costa Neto (presidente do PL), Jacinto Lamas (ex-tesoureiro do PL), João Cláudio Genu (ex-assessor da liderança do PL na Câmara), Emerson Palmieri (tesoureiro informal do PTB), Manoel Severino dos Santos (ex-presidente da Casa da Moeda) e José Luís Alves (que foi chefe de gabinete do então ministro dos Transportes, Anderson Adauto) na mesma sessão, para tentar descobrir quem falou a verdade. Em todos os depoimentos os acusados negam ter recebido os valores apontados na lista que Marcos Valério entregou à CPI.

"Acho que eles diminuem os valores para tentar fazer o crime menor", disse a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP). "Mas não interessa se é R$ 100 mil ou R$ 1 milhão. O fato é que receberam um dinheiro ilegal."

Um dos casos é o de Manoel Severino, que esta semana admitiu ter recebido R$ 100 mil de Marcos Valério. No total, o empresário diz ter repassado R$ 2,6 milhões a Severino, dinheiro que teria ido para a campanha de Benedita da Silva ao governo do Rio em 2002.

Parte dos deputados queria chamar também o deputado cassado Roberto Jefferson (PTB), o primeiro a falar do mensalão, mas decidiu-se por deixá-lo de fora. "Ele já falou o que sabia do caso, já foi punido, não tem sentido", disse o relator da CPI, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG).

BANESTADO

A CPI ainda aprovou a quebra de sigilo bancário das 11 corretoras de títulos que também tiveram o sigilo quebrado ontem pela CPI dos Correios. Na prática, o sigilo não precisa ser quebrado duas vezes. As informações que forem repassadas para os Correios poderão ser usadas pelo Mensalão - mas é uma forma de marcar posição.

A CPI também requereu que todos os documentos levantados pela CPI do Banestado - que investigou remessas ilegais de dinheiro para o exterior e terminou em pizza.

Os parlamentares acreditam que podem achar relações entre as remessas para o exterior feitas por políticos e o dinheiro distribuído por Marcos Valério e o caixa 2 das últimas campanhas políticas.