Título: Ligações provariam que Adauto fez 17 saques, de R$ 1 mi
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2005, Nacional, p. A11

BRASÍLIA - As ligações do ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto com o esquema do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza são mais profundas do que o político - hoje prefeito de Uberaba (MG) - admitiu. Ontem, durante o depoimento do seu ex-chefe de gabinete José Luiz Alves na CPI do Mensalão, os parlamentares descobriram que, a cada saque na conta de Valério no Banco Rural, alguém da agência de publicidade SMPB, pertencente a Marcos Valério, ligava para Alves.

Foram 17 saques, de acordo com a lista entregue pelo publicitário à CPI. E 17 telefonemas para o número de Alves no ministério, de acordo com os dados de seu sigilo telefônico, todos na véspera ou próximos dos dias dos saques.

Não que Alves tenha admitido alguma coisa. Mesmo depondo apenas como testemunha, o ex-chefe de gabinete e hoje secretário de Governo de Adauto em Uberaba, chegou armado com uma declaração em que admitia apenas cinco idas à agência do Banco Rural em Brasília e quatro saques, somando R$ 200 mil.

Na lista de Valério, o dinheiro para Anderson Adauto chega a R$ 1 milhão.

A CPI tem em mãos os registros de entradas no Banco Rural, que mostram Alves no banco sete vezes, em vez de cinco.

Quanto aos outros dez saques, não há registro de que tenha sido realmente feito por ele.

Mas havia outra pessoa autorizada a retirar o dinheiro para Adauto. Trata-se de Edson Pereira de Almeida, irmão do ex-ministro, como os deputados descobriram ao inquirir Alves.

"Parte desse dinheiro pode não ter sido retirado por ele mesmo. Há outro sacador autorizado, mas não sabíamos até agora quem era esse Edson. Não tem número de telefone, o nome é muito diferente", disse a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP).

Alves confirmou, no entanto, que Anderson Adauto ligou para o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares para pedir ajuda financeira.

Supostamente, para ajudá-lo a pagar dívidas que ficaram da sua campanha para deputado em 2002.

"Algum tempo depois o senhor Delúbio Soares lhe disse que o senhor Marcos Valério resolveria o problema", contou Alves. Foi aí que o ex-chefe de gabinete foi instruído pelo ex-ministro a ir até a agência do Banco Rural.

Nas vezes em que admitiu ter sacado o dinheiro, Alves disse que recebeu em espécie e entregou ao então ministro no seu gabinete, em mãos.

"Apenas uma vez fui na casa dele entregar", disse.

RELACIONAMENTO

Alves contou também que Adauto tinha um relacionamento antigo com Marcos Valério. O publicitário fez o layout da campanha de Adauto a deputado em 2002. Depois disso, contou Alves, Valério foi várias vezes ao ministério, assim como Delúbio Soares. "Nunca participei de nenhuma reunião, mas o senhor Delúbio esteve várias vezes no ministério", afirmou.