Título: Greve de fome até morrer não é aceitável, diz CNBB
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2005, Nacional, p. A14

BRASÍLIA - A greve de fome ¿até morrer¿ do bispo Luís Flávio Cappio em protesto contra a transposição do Rio São Francisco não é ¿moralmente¿ aceitável, na avaliação do secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Odilo Pedro Scherer, um dos principais porta-vozes da cúpula da Igreja no Brasil. Em entrevista ao Estado, o dirigente da CNBB disse que espera um diálogo entre o governo e o religioso. A conferência quer deixar claro, sem fazer críticas a d. Luís, seu posicionamento em defesa da vida e contra formas de interrupção como o suicídio e a eutanásia. Questionado sobre como via o fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter mandado uma carta para d. Luís, mas evitado comentar, até ontem, se vai atender à solicitação do religioso, d. Scherer disse que não tinha conhecimento da carta, mas avaliava que o presidente deseja dialogar com o bispo da Diocese de Barra, ¿para chegar a uma feliz solução para o impasse¿.

O secretário-geral acha que d. Luís colocou o governo diante de uma decisão difícil com sua greve de fome. Mas ponderou que ¿o diálogo é a via desejável para se chegar a uma solução aceitável para o governo e para a questão do Rio São Francisco¿.

Indagado sobre em quem recairia a culpa se d. Luís vier a morrer, o secretário-geral respondeu: ¿Desejo que ele não morra e também viva o Rio São Francisco, para dar vida a muita gente. A greve de fome até morrer, moralmente, não é aceitável.¿

Segundo d. Odilo, a atitude do bispo deixa clara a complexidade que cerca o debate sobre a transposição. ¿Meu desejo seria que se chegasse a uma solução dialogada. No projeto da transposição, existe uma multiplicidade de aspectos que precisam ser devidamente levados em conta: ambiental, técnica, econômica, política, humanitária.¿

Para d. Scherer, ¿o certo é que o governo se viu, de repente, diante de um problema inesperado; talvez tenha percebido melhor alguns aspectos delicados do projeto de transposição: aspectos não suficientemente percebidos, ou não suficientemente trabalhados até agora¿.