Título: Antes de se decidir pelo protesto, d. Luís insistia que rio só precisa de recuperação
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2005, Nacional, p. A14

Muito antes de iniciar a greve de fome, o bispo da Diocese de Barra, d. Luís Flávio Cappio, já era respeitado entre agentes pastorais da Igreja Católica como estudioso do Rio São Francisco. Em janeiro, ao ser convidado para falar sobre o assunto num curso do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (Cesep), em São Paulo, ele distribuiu um texto no qual expôs sua tese de que o rio não precisa de transposição, mas de um urgente projeto de recuperação. Para o bispo, o São Francisco está sendo asfixiado pela destruição dos cerrados e das matas ao seu redor, pela poluição, pela construção de barragens e projetos de irrigação. ¿Os desmatamentos são hoje a maior agressão à vida do São Francisco, ameaçando a perenidade de suas águas¿, diz.

Segundo ele, o desmatamento dos cerrados, o conjunto de ecossistemas que cobre a região central do Brasil, ocorre à velocidade de 360 mil hectares por ano. A destruição das matas ciliares ¿ que protegem o rio do entupimento e são consideradas imprescindíveis para a vida de animais, peixes e pássaros ¿ também o preocupa: ¿O rio já totalmente assoreado, desde seu trecho inicial, é a marca deixada pela ocupação irracional de suas margens.¿

Ele observa ainda que os afluentes estão recebendo dejetos industriais, rejeitos de mineração, agrotóxicos, esgotos e lixo das cidades: ¿Dos 97 municípios banhados pelo rio, são poucos os que têm algum serviço de tratamento para seus esgotos. Os esgotos de Belo Horizonte, com seus 3 milhões de habitantes, se dirigem sem tratamento para o Velho Chico.¿