Título: Lula elogia 'grandeza' do bispo, mas defende projeto
Autor: Tânia Monteiro e Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2005, Nacional, p. A15

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, em São Paulo, que o projeto de transposição do Rio São Francisco não vai parar. Ele acredita que o governo encontrará "um bom termo" para pôr fim à greve de fome do bispo de Barra (BA), Luís Flávio Cappio, iniciada em protesto contra a obra. "Não poderia haver suspensão porque é uma obra que não tem data marcada para começar", afirmou o presidente durante sua visita à Inova Senai - Feira Senai Paulista de Inovação Tecnológica, realizada no Anhembi. Antes, Lula participou da abertura da Olimpíada do Conhecimento, promovida pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Para Lula, a posição do bispo é compreensível. "Quando você faz greve de fome é porque você tem uma forte razão", argumentou, lembrando que ele próprio já utilizou esse recurso. Mas defendeu o projeto da transposição. "Acho que é uma obra que tem um forte caráter social e acho que o bispo tomou uma posição pessoal que eu respeito, porque eu também já tomei a decisão na minha vida de fazer greve de fome", declarou.

Para Lula, a "grandeza" do bispo é um dos fatores que o fazem acreditar num acordo que ponha fim ao protesto. "Todas as pessoas que tomam a decisão de fazer greve de fome são pessoas que têm grandeza", argumentou. "Por isso estou consciente de que a gente encontrará um bom termo."

Questionado se ele mesmo iria conversar com d. Luís Cappio, que está em Cabrobó (PE), o presidente disse que outras pessoas estão incumbidas da tarefa. Citou ainda a posição da Igreja como um fator que pode ajudar nas negociações. Para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a greve de fome até a morte não é "moralmente aceitável".

Lula fez questão de afirmar que o projeto de transposição do rio "está pronto" e o governo tem atuado para recuperar o rio. "A primeira coisa que nós começamos foi a revitalização de muitas cidades, porque esse rio foi abandonado durante muito tempo", explicou. "Vejo alguns governantes defendendo o rio, mas a vida inteira jogaram esgoto dentro do rio e permitiram que fizessem carvão com as matas ciliares."