Título: Indústria esfria e espera o fim do ano
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2005, Economia & Negócios, p. B1

BRASÍLIA - O terceiro trimestre deve ser marcado pelo esfriamento da atividade industrial, segundo os dados divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em agosto, pelo segundo mês consecutivo, as vendas reais recuaram 1,08% ante julho. Com exceção da massa salarial, que cresce há seis meses, todos os demais indicadores mostraram-se praticamente estáveis. "Os dados de agosto confirmam o que era apenas uma sinalização em julho. A atividade econômica no terceiro trimestre deve mostrar uma acomodação", afirmou o economista da CNI, Paulo Mol. A CNI espera a retomada da atividade no quarto trimestre, com picos de produção em outubro e novembro, por causa das vendas de Natal.

Na comparação com agosto do ano passado, as vendas reais na indústria caíram 0,67% em agosto de 2005. Mol atribuiu o recuo no faturamento das empresas à forte valorização do real, de 21,4% no período, que afetou a receita das companhias exportadoras. No ano, as vendas cresceram 1,84%.

O número de horas trabalhadas na indústria, que é o indicador mais ligado à produção, oscila entre estável e levemente negativo desde junho. O mercado de trabalho também é marcado pela acomodação, com o emprego industrial praticamente estável há quatro meses. Mesmo assim, afirmou Mol, a expansão de postos de trabalho no setor deve atingir 4,3% este ano, valor recorde e bem acima dos 3,5% do ano passado.

O único indicador, na avaliação da CNI, que destoa do cenário de arrefecimento da atividade industrial é o da massa real de salários, que continua crescendo. No entanto, para a CNI, o aumento dos salários na indústria por seis meses consecutivos é resultado do aumento do poder de compra, com a queda da inflação, e não do dinamismo da produção.

A CNI apontou três fatores de restrição à expansão da indústria no terceiro trimestre: os juros altos, a valorização do real e o ritmo menor da expansão do crédito consignado. Segundo Mol, de setembro de 2004 a abril deste ano os novos créditos dobraram, atingindo R$ 2 bilhões por mês. A partir de maio, porém, houve estabilidade no volume de crédito.

O coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, disse que o terceiro trimestre foi marcado por "fatores extra-econômicos", referindo-se à crise política. Segundo ele, apesar do aumento da massa salarial, as sondagens mostram receio da população em consumir. "Mesmo havendo certa independência entre a crise política e a economia, sempre há algum tipo de impacto", avalia.

Apesar dos dados pouco animadores de agosto, Mol destacou como fator positivo a queda de 1,5 ponto porcentual na utilização da capacidade instalada da indústria, combinada com o crescimento de 4,77% na produção industrial, comparada com agosto de 2004.