Título: Greenhalgh depõe e insiste na tese de crime comum
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - Em depoimento à CPI dos Bingos, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) não conseguiu derrubar as suspeitas da oposição de que o assassinato do prefeito Celso Daniel teve ligação com um esquema de corrupção em Santo André. Advogado criminalista, Greenhalgh acompanhou as investigações como representante do PT. À CPI, se disse convencido de que o episódio foi um crime comum, sem conotações políticas, e detalhou como teriam agido os bandidos da quadrilha que seqüestrou o prefeito. De acordo com Greenhalgh, os seqüestradores teriam decidido matar o prefeito após descobrirem, pela televisão, que ele era uma autoridade. No início do depoimento, o deputado relatou aos integrantes da comissão o momento em que viu o corpo do ex-prefeito chegar ao Instituto Médico Legal (IML), em São Paulo. "Ele tinha os olhos abertos de terror e as mãos crispadas, tensas."

O assassinato de Celso Daniel, lembrou Greenhalgh, foi investigado por três delegados da Polícia Federal e por seis delegados de São Paulo, além de cinco promotores de Justiça. Lembrou ainda que dois suspeitos do assassinato foram presos no Paraná, mas acabaram soltos, segundo afirmou, após pagarem propina. "Isso retardou a prisão desses dois indivíduos, que foram depois para a Bahia".

Após o depoimento, o presidente da CPI, Efraim Morais (PFL-PB), disse que o deputado teve a preocupação de "blindar"o empresário Sérgio Gomes da Silva, conhecido como Sombra. Preso sob a acusação de ser o mandante do assassinato, o empresário estava com Celso Daniel na noite do crime e é suspeito de ter se beneficiado do suposto esquema de corrupção montado em Santo André. "O senhor Sombra parece saber de muitas coisas que querem ocultar", afirmou Efraim.

Sombra, segundo Greenhalgh, não reagiu aos sequestradores, embora já tivesse trabalhado como segurança do prefeito, porque "amarelou, ficou intimidado, paralisado". Para o senador José Agripino (PFL-RN) continuam sem respostas três indagações que reforçam a tese de crime encomendado. São elas: como Sombra passou, num curto espaço de tempo, de motorista e segurança de Celso Daniel, a empresário de sucesso; por que ele não foi levado pelos sequestradores, se era o motorista e dono do Pajero blindado e por que não houve pedido de resgate.

O deputado lamentou que até hoje não tenha sido apresentada uma fita de vídeo que supostamente contém imagens do seqüestro. O crime teria sido filmado por um pastor protestante, que comunicou o fato ao senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Segundo o pastor, ele estava filmando uma festa de aniversário quando ouviu ruídos na rua e apontou a câmera para o local onde Daniel estava sendo seqüestrado. Por medo de represália, o pastor nunca divulgou a fita.