Título: CPI fará acareação entre assessor de Lula e irmão de Celso Daniel
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - Justamente no momento em que retomava a iniciativa política com a vitória de Aldo Rebelo (PC do B-SP) à presidência da Câmara, o governo sofreu duras derrotas na CPI dos Bingos ontem. Na mais importante, a CPI decidiu promover uma acareação entre o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, e os irmãos do prefeito de Santo André, Celso Daniel, assassinado em 2002: João Francisco e Bruno Daniel. A data da acareação ainda será marcada. Aliados foram chamados para a CPI às pressas, mas tampouco conseguiram evitar dois depoimentos indesejáveis para o governo: foram convocados o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira e o juiz João Carlos da Rocha Matos. Silvio vai ser inquirido sobre o caixa 2 do PT.

Rocha Matos, que está preso há 1 ano e 11 meses, condenado por vender sentenças judiciais, ameaça complicar a situação de Carvalho. Em entrevista à revista Veja, o juiz disse que o chefe de gabinete dava orientações a pessoas ligadas a Celso Daniel e mostrava preocupação com a movimentação da polícia.

Rocha Matos foi dos poucos a ouvir 42 fitas gravadas de janeiro a março de 2002, com telefonemas de personagens do caso. Num deles, Carvalho, então secretário de Governo da prefeitura, pede à namorada de Daniel, Ivone de Santana, que desse entrevista mostrando estar abalada com sua morte. A suspeita é de que ele queria dificultar a descoberta da ligação da morte de Daniel com esquema de corrupção operado em Santo André, em proveito do PT.

À CPI, João Francisco disse ter ouvido Carvalho admitir o esquema e que lhe cabia entregar o dinheiro obtido de empresários achacados ao então presidente do PT, José Dirceu. ¿Houve vezes em que a propina somava mais de R$ 1,2 milhão.¿ No seu depoimento, a portas fechadas, o chefe de gabinete negou ter feito essa confissão.

Ontem, na única vitória obtida na CPI, o governo contou com a ajuda da oposição para impedir a convocação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e seu irmão Ademar. Os líderes do PFL, José Agripino (RN), e do PSDB, Arthur Virgílio (AM), mais o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), declararam que a fragilização de Palocci pode ter repercussão na economia a ponto de comprometer as finanças do País.

Autor dos pedidos de convocação do ministro e de seu irmão, o senador Geraldo Mesquita (PSOL-AC) alegou que Palocci precisa esclarecer duas acusações. A de que intermediava para o PT um mensalão de R$ 50 mil quando era prefeito de Ribeirão Preto e a suposta extorsão da multinacional Gtech na renovação de contrato com a Caixa Econômica Federal, em abril de 2003. A respeito de Ademar Palocci, Mesquita disse que cabe a ele prestar informações sobre a denúncia de que teria abastecido o caixa 2 do PT quando era secretário de Finanças de Goiânia.