Título: CPI aprova quebra de sigilo de 11 corretoras
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2005, Nacional, p. A6

BRASÍLIA - Depois de duas semanas de paralisia, a CPI dos Correios voltou ontem a trabalhar - e a todo vapor. Aprovou mais de 60 requerimentos, entre eles 11 que quebram o sigilo bancário de corretoras acusadas de dar prejuízo aos fundos de pensão em operações com títulos públicos. O pedido é importante porque um relatório parcial da CPI dos Correios já detectou prejuízo de R$ 9 milhões em seis de 10 fundos de pensão. Hoje a CPI não deverá funcionar: o doleiro Dario Messer, que deveria depor, não foi localizado até o início da noite de ontem. "Nada como a pressão dos meios de comunicação para minimizar o abafão", disse a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL). Além das 11 corretoras, os integrantes da CPI também aprovaram a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico de todo o conglomerado da corretora Bônus Banval - são mais quatro empresas - e de seu dono, Enivaldo Quadrado. A Bônus Banval foi a corretora que fez pagamentos do PT ao PL. Também foi aprovada a quebra do sigilo bancário, telefônico e fiscal do doleiro Najun Turner e de sua mulher, Deusa Maria da Costa Silva. A CPI suspeita que Turner - que foi o doleiro da Operação Uruguai, montada pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello no início da década de 90 -, tenha atuado no esquema do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.

Na tentativa de desvendar esse esquema, a CPI dos Correios aprovou a quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico do argentino Carlos Alberto Quaglia, dono da corretora Natimar e que tinha uma conta na Bônus Banval. A Polícia Federal tem indícios de que o doleiro Najun Turner pode ser o verdadeiro dono da Natimar. Turner, que foi convocado para depor na CPI dos Correios, está preso desde 31 de março deste ano, depois de ter sido condenado a dez anos de prisão por crimes contra o sistema financeiro. O doleiro ficou conhecido em 1992, quando participou da montagem da Operação Uruguai, que tentou livrar o ex-presidente Collor do impeachment. Na época, assessores de Collor inventaram um empréstimo de US$ 3,7 milhões para tentar acobertar o dinheiro do esquema PC.

RECUO

Preocupados com a repercussão da manobra que fizeram para esvaziar a CPI dos Correios nas últimas semanas, os parlamentares da base aliada recuaram dessa estratégia e mantiveram o quorum na sessão de ontem. Assim foram aprovadas, em votação simbólica, as convocações de César Oliveira, dono da empresa de engenharia GDK, e de Guilherme Estrella, diretor de exploração e produção da Petrobrás. A GDK foi a empresa que deu um jipe Land Rover ao ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira.

"Estava há quatro semanas tentando aprovar esses requerimentos", observou o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS). Ele protagonizou o único momento tenso da sessão de ontem, num bate-boca com a senadora Ideli Salvati (PT-SC) sobre a convocação do doleiro Adalberto Youssef . Os integrantes da CPI dos Correios aprovaram ainda a solicitação da lista de todos os cotistas do Opportunity Fund nas Ilhas Cayman e a transferência, para a comissão, do disco rígido apreendido pela Polícia Federal, na Operação Chacal, na sede da empresa de fundo de investimentos.