Título: Briga entre Izar e Ciro emperra processos para cassar 16 deputados
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2005, Nacional, p. A8

BRASÍLIA - Chegou ao auge ontem a briga entre o corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), e o presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP). O motivo foi o formato do relatório a ser concluído hoje sobre os processos dos 16 deputados denunciados pelas CPIs dos Correios e do Mensalão, por suspeita de corrupção e de envolvimento no esquema de caixa 2 do PT. Separadamente, Nogueira e Izar se reuniram com o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), com uma diferença de menos de meia hora entre um encontro e outro. ¿O deputado Ricardo Izar não existe para mim¿, disse Ciro, irritado, ao deixar a reunião com Aldo. ¿Ele está sendo mal-educado¿, devolveu Izar. Depois de defender a tese de que a Comissão de Sindicância formada pela Corregedoria da Câmara para analisar os 16 casos deveria fazer relatórios separados e recomendar o arquivamento dos processos de deputados contra os quais não há provas suficientes, Izar disse ontem que, se a Corregedoria mandar um relatório único, o Conselho de Ética ¿terá a coragem de abrir um processo para cada um¿. Para fazer isso, porém, precisará de um mês de trabalho.

¿Se recebermos relatórios instruídos, com as provas, ganhamos um mês. Se recebermos relatórios vazios, teremos que buscar provas, testemunhas para abrir cada processo¿, argumentou Izar.

CAPÍTULOS

Ciro, assim como o relator da Comissão de Sindicância, Robson Tuma (PFL-SP), tem insistido que deve ser feito um único relatório, dividindo em capítulos as denúncias contra cada deputado. Para eles, a corregedoria não deve sugerir cassações ou absolvições, nem recomendar arquivamento de processo.

Segundo Izar, o presidente da Câmara concordou com a idéia de relatórios individuais. Mas teria ressalvado que a decisão cabe à Comissão de Sindicância.

Há pelo menos duas questões no centro da disputa. De um lado, nenhuma instância de investigação quer a responsabilidade pelo arquivamento de processos. De outro, existem suspeitas tanto na bancada do governo quanto na oposição de que existem deputados empenhados em salvar aliados.

IRRITAÇÃO

Aldo chegou a ser informado por um parlamentar que Ciro Nogueira estaria trabalhando pelo arquivamento dos processos de seus aliados e do ex-presidente da Câmara, Severino Cavalcanti. O corregedor irritou-se com os boatos. Do outro lado, fala-se que Izar estaria interferindo na Comissão de Sindicância com o objetivo de protelar. ¿Não quero entrar em briga. Já fui mal-interpretado e agora o conselho vai abrir processo para todos¿, disse o presidente do Conselho de Ética. ¿Não podemos arquivar. Mesmo os casos que não têm prova nenhuma vamos mandar para o plenário decidir. A decisão não será só nossa.¿