Título: Ex-presidente da Casa da Moeda admite caixa 2
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2005, Nacional, p. A10

BRASÍLIA - Apontado como receptor de cerca de R$ 2,7 milhões do esquema de Marcos Valério, o ex-presidente da Casa da Moeda Manoel Severino dos Santos admitiu o uso de caixa 2 para saldar dívidas relacionada à campanha da então candidata ao governo do Rio, Benedita da Silva (PT), de quem foi tesoureiro. Ao depor na CPI do Mensalão por quase 5 horas, Severino disse que despesas feitas com fornecedores depois do primeiro turno não foram incluídas na prestação de contas ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Segundo ele, as dívidas chegariam a R$ 170 mil. Mostrando impaciência com as perguntas, repetiu várias vezes que não podia dar conta do dinheiro porque nunca o recebeu nem autorizou ninguém a recebê-lo. "Não tenho conhecimento."

Segundo ele, no fim da campanha de Benedita o PT do Rio decidiu fazer alguns eventos e contratou carros de som e gráficas para fazer panfletos. Essas despesas não entraram na prestação de contas ao TRE. "Reclamações de não pagamento começaram a aparecer sobre as despesas. Procurei uma pessoa que fazia parte da coordenação da campanha e orientei que conversasse com quem reclamava", disse, referindo-se a Carlos Roberto Macedo Chaves.

Lista do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) cita Chaves como tendo retirado R$ 100 mil das contas de Valério. "Eu conversei com a Secretaria de Finanças do PT, falei com o Delúbio Soares disse que precisávamos dessa ajuda. Era algo em torno de R$ 170 mil, R$ 180 mil. A campanha já havia sido encerrada, não havia como arrecadar mais recursos."

Na lista entregue à CPI por Valério, Severino aparece mais vezes, com valor de R$ 2,67 milhões - quase igual ao gasto da campanha de Benedita, conforme a prestação de contas. Foram quatro saques. O primeiro, de R$ 100 mil, em setembro de 2003. O segundo, de R$ 326 mil, em janeiro de 2004. O terceiro, de R$ 750 mil em abril de 2004 e o último, de R$ 1,5 milhão, em julho de 2004. Em nenhum dos saques Severino teria ido diretamente à agência. Ele admitiu apenas envolvimento no saque de R$ 100 mil. E, mesmo assim, "involuntariamente".

"Não tenho conhecimento, não sei porque meu nome consta nessa relação. Nego ter recebido qualquer tipo de recursos oriundo das agências de Valério, reitero que nunca estive em nenhuma agência do Banco Rural, nunca estive em reunião com Marcos Valério em nenhuma das suas empresas."

O ex-presidente da Casa da Moeda - que pediu exoneração em maio, depois que seu nome foi ligado ao escândalo do mensalão - negou também que qualquer despesa da campanha de Benedita tenha sido paga por Valério, incluindo o contrato do publicitário Duda Mendonça.