Título: Gtech fazia lobby desde FHC, diz ex-consultor
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2005, Nacional, p. A10

BRASÍLIA - O ex-consultor jurídico da multinacional Gtech, Enrico Gianelli, informou ontem à Polícia Federal que a empresa mantinha um esquema de tráfico de influência no Executivo desde o governo Fernando Henrique Cardoso e tentou contratar o advogado paulista Rogério Buratti porque queria, por intermédio dele, preservar seu esquema no governo atual. Buratti ¿ que foi assessor da prefeitura de Ribeirão Preto em 1993, quando o prefeito era o atual ministro da Fazenda, Antonio Palocci ¿ ajudaria a Gtech nas negociações realizadas em abril de 2003 para a renovação do seu contrato com a Caixa Econômica Federal para operação da rede de loterias do País.

Durante toda a tarde e boa parte da noite de ontem, a Polícia Federal promoveu uma acareação entre os principais envolvidos no caso Waldomiro Diniz, o ex-assessor do Planalto que protagonizou o primeiro escândalo de corrupção do governo Lula, ao aparecer em fita de vídeo cobrando propina ao empresário de jogos Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Foram confrontados Gianelli, Waldomiro, Cachoeira, Buratti e o diretor de Marketing da Gtech, Marcelo Rovai.

DEFESA

Acusado de ter tentado intermediar a renovação do contrato da Caixa com a Gtech em troca de propina, Waldomiro usou o direito de ficar calado e alegou que só se manifestaria na Justiça. A mesma atitude foi adotada por Cachoeira, que teria feito a apresentação de Waldomiro à diretoria da Caixa.

Rovai, por sua vez, insistiu na tese de que a multinacional foi alvo de tentativa de extorsão por parte de Buratti, acusado de ter sido indicado por Waldomiro para ser contratado como consultor das negociações, mediante uma comissão de R$ 6 milhões. Buratti negou ter recebido a propina.

Tumultuada pelo excesso de versões desencontradas, a acareação transcorreu a portas fechadas e não rendeu nenhuma pista nova. O delegado da Polícia Federal Nilton Cerqueira, que promoveu a acareação, não quis depois dar nenhuma declaração à imprensa. O inquérito do caso Waldomiro Diniz já dura 20 meses sem solução, e o delegado Cerqueira não consegue fechá-lo, apesar das pressões da CPI dos Bingos. Hoje, às 11 horas, a CPI também marcou uma acareação com Gianelli, Waldomiro, Carlos Cachoeira, Buratti e Rovai.