Título: Pont diz que base aliada abriga até torturadores
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2005, Nacional, p. A11

BRASÍLIA - No primeiro debate do segundo turno da eleição para a presidência do PT, os candidatos Ricardo Berzoini e Raul Pont divergiram ontem dos rumos do governo e de qual deve ser o tamanho das alianças num eventual novo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Diante de aproximadamente 30 de seus 83 colegas da bancada petista na Câmara, o deputado Berzoini (SP) ¿ que concorre pelo Campo Majoritário ¿ defendeu o governo e abrandou as críticas à política econômica ¿ enquanto Pont, da Democracia Socialista, disse que a base de apoio do Planalto é marcada por fisiologismo e abriga até mesmo torturadores. ¿Eu me sinto mal de ter na base de alianças os que nos torturaram, nos prenderam, nos mataram¿, afirmou Pont, no plenário 13 da Câmara. ¿Nós temos de fazer um balanço: foi positivo para o nosso governo esse fisiologismo insaciável do Jefferson e do Valdemar?¿, perguntou, numa referência ao deputado cassado Roberto Jefferson, que era do PTB e acusou o governo de pagar mesada a parlamentares, em troca de apoio no Congresso, e ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que renunciou para escapar da degola.

Definindo-se como ¿um aliancista convicto¿, Berzoini insistiu que os petistas críticos do governo erram na dose dos ataques. ¿Não é papel do PT ressaltar as insuficiências do governo. Não podemos ser ingênuos em relação ao futuro da disputa de 2006: trata-se de um embate de classes entre direita e esquerda¿, argumentou o candidato do Campo Majoritário, agrupamento que abriga os acusados de envolvimento no escândalo do mensalão.

Ex-prefeito de Porto Alegre e hoje deputado estadual, Pont discordou de Berzoini e previu crise pior para o PT se o partido não promover um Congresso de ¿refundação¿ logo após a eleição interna, marcada para o próximo domingo. ¿Aqui não está em discussão se alguém é contra ou a favor do Lula. Isso é um debate pequeno e mesquinho¿, observou o candidato da esquerda. ¿A crise de hoje é pequena se comparada ao tensionamento que vamos viver se não tivermos coesão programática.¿

Ex-ministro do Trabalho e da Previdência, Berzoini disse que a eleição de Aldo Rebelo (PC do B-SP) para a presidência da Câmara reforça o argumento de que o PT deve buscar casamentos ao centro e à direita para governar. Motivo: para levar Aldo ao comando da Câmara, Lula precisou contar com o apoio do PTB, do PP e do PL ¿ partidos atingidos pelo escândalo do mensalão. ¿Mas nós podemos fazer alianças sem nos descaracterizar¿, defendeu Berzoini.

REUNIÃO COM LULA

Durante o debate, o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), confirmou a reunião da bancada petista na Câmara com Lula para sexta-feira. Serão três horas de conversa, mas apenas 15 deputados farão uso da palavra. ¿Vamos falar da crise, dos planos para o último ano de governo e até da política econômica¿, contou Fontana. Na platéia, Orlando Desconsi (PT-RS) lembrou que em dois anos e nove meses de governo é a primeira vez que Lula ouvirá os deputados de seu partido. ¿É inacreditável¿, afirmou. ¿Não vêem que não podemos ser a bancada que só diz amém?¿ Seu colega Nazareno Fonteles (PI) foi mais longe. ¿Desde 2003, o PT ficou soterrado pelas demandas do Executivo¿, disse.