Título: D. Paulo pede a bispo que não leve protesto até o fim
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2005, Nacional, p. A12

O cardeal d. Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito (aposentado) de São Paulo, se solidarizou com o bispo de Barra, d. Luís Flávio Cappio, que está em greve de fome contra a transposição do Rio São Francisco, mas lhe fez um apelo para que não leve o protesto até a morte. "O Espírito Santo me disse que você só fosse até o último limite que o médico lhe permitir, porque sua vida é necessária a tantos pobres que nós amamos como você ama", argumentou o cardeal, em carta enviada a d. Luís Flávio na semana passada. Segundo d. Paulo, o bispo de Barra lhe telefonou, no domingo, para agradecer o apoio e dizer que iria refletir bastante sobre seu pedido. "Sou uma espécie de padrinho de d. Luís Flávio, pois fui eu quem o ordenou padre em 1971 e, mais tarde, bispo, em 1997", lembrou o cardeal.

Na carta enviada a Cabrobó, d. Paulo insiste para que o bispo se submeta a acompanhamento médico. "Não decida nada sozinho, mas sim junto com a medicina, para que não se perca uma vida tão preciosa ao povo que Deus e nós amamos", aconselhou.

O cardeal escreveu também ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para lhe dizer que apóia a posição adotada pelo presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Geraldo Majella Agnelo, em relação ao projeto de transposição do Rio São Francisco.

Em carta endereçada a Lula, no dia 30, a direção da CNBB lhe pediu que reconsidere a decisão política que, "ainda longe de um consenso na região nordestina a respeito da viabilidade e dos resultados sócio-ambientais da transposição do Rio São Francisco, divide mentes e corações".

Depois de lembrar que ele e seu sucessor, d. Cláudio Hummes, pensam a mesma coisa que escreveu d. Geraldo Majella, d. Paulo disse na carta a Lula que confia em sua paciência e sobretudo no bom senso para salvar a natureza. O presidente da República ainda não respondeu.

D. Paulo disse ao Estado que considera exagero classificar de suicídio a greve de fome de d. Luís Flávio, embora seja um gesto radical. "Seria uma pena que viesse a morrer, pois não é isso que ele quer", observou o cardeal.