Título: Partidários de Merkel exigem entrega do governo
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2005, Internacional, p. A14

BERLIM - Políticos democrata-cristãos, liderados por Angela Merkel, lançaram ontem um ultimato aos social-democratas: as negociações para formação da grande coalizão partidária serão suspensas se Gerhard Schroeder não desistir de ocupar o cargo de chefe do governo. Na véspera de uma nova "reunião exploratória" entre as duas correntes, o secretário-geral da União Democrata-Cristã (CDU), Volker Kauder, advertiu que seu partido e a União Social-Cristã da Baviera(CSU) não aceitariam iniciar conversações formais enquanto o Partido Social-Democrata (SPD) não aceitar a candidatura de Merkel à chancelaria alemã.

"O SPD deve reconhecer a realidade, a aliança CDU/CSU é o grupo parlamentar majoritário e tem o direito de designar sua líder Angela Merkel o próximo chefe do governo", acrescentou Kauder em entrevista à rede pública de televisão ARD.

A posição assumida por Kauder é compartilhada de forma unânime por toda a cúpula da aliança democrata-cristã.

Segundo dirigentes da CDU e da CSU ouvidos pela agência noticiosa EFE, não está afastada a hipótese de uma ruptura das negociações com os social-democratas se persistir a obstinação deles por Schroeder.

Na segunda-feira, o chanceler alemão havia admitido deixar o cargo ao dizer que seu futuro seria decidido pelo partido. Ontem, os social-democratas fixaram uma posição.

O vice-presidente do SPD, Ludwig Stiegler, assegurou que os social-democratas decidiram "ficar com Schroeder". E acrescentou: "Se a CDU diz que esta questão deve ser definida de antemão, não haverá negociação. Bebemos a xícara de chá e nos retiramos da casa."

Edmund Stoiber, líder da CSU, acha que as negociações estão mesmo por um fio. "Não vamos embarcar numa ampla negociação com o SPD sem esclarecer uma questão central que é a de quem será chanceler", disse ele.

Se hoje ocorrer efetivamente uma ruptura das conversações, poderia ser colocada sobre a mesa uma eventual convocação de novas eleições parlamentares. Esse passo figura dentro das probabilidades previstas pelo SPD, embora alguns analistas duvidem que as coisas possam chegar a esse extremo. Uma solução desse tipo teria efeito devastador sobre a opinião pública. Além disso, os cofres dos partidos políticos estão praticamente vazios. Gastaram tudo na última campanha eleitoral. Por último, os deputados eleitos pela primeira vez nas eleições de 18 de setembro opõem-se com veemência à idéia.

A coalizão CDU/CSU obteve 226 cadeiras no Parlamento e o SPD, 222. Os social-democratas se consideram a maior bancada do plenário, argumentando que as cadeiras dos democrata-cristãos são a soma obtida por dois partidos.

As eleições do dia 18 foram concluídas no último domingo, em Dresden (leste da Alemanha). O pleito fora adiado em razão da morte repentina de um dos candidatos, inscrito pelo neonazista Partido Nacional Democrata.

Os democrata-cristãos venceram a eleição em Dresden. Embora o resultado não tivesse uma influência decisiva na composição do Parlamento, o triunfo da CDU/CSU fortaleceu a posição de Angela Merkel como aspirante ao governo da Alemanha.

Dresden era considerada um reduto social-democrata. Schroeder triunfou ali nas eleições de 2002.