Título: OMS quer combater doenças crônicas
Autor: Claudia Ferraz e Lígia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2005, Vida&, p. A17

BRASÍLIA - O número de mortes causadas por doenças crônicas deverá crescer em 17% nos próximos dez anos, caso governos não tomem medidas imediatas para conter a epidemia, alerta a Organização Mundial de Saúde (OMS). Em seu mais recente relatório, a agência faz um apelo para que um esforço mundial seja lançado para reduzir em 2% por ano a taxa de mortalidade provocada por doenças como câncer, diabete, problemas cardiovasculares e respiratórios. Juntas,elas serão responsáveis, somente em 2005, pela morte de 35 milhões de pessoas - o que representa o dobro do registrado por doenças infecciosas, incluindo aids, tuberculose e malária. No Brasil, a situação não é diferente. De acordo com o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério, Jarbas Barbosa, doenças crônicas representam 70% das mortes ocorridas no País. Somente em 2004, foram 700 mil óbitos. Boa parte deles prematuros, ocorridos em pessoas com menos de 60 anos.

"Esta é uma situação muito séria. Tanto para a saúde pública quanto para a sociedade. E a economia é afetada", afirmou o diretor geral da OMS, Lee Jong-wook, na apresentação do relatório mundial sobre o assunto, lançado ontem. "O custo da inércia é claro e inaceitável", completou.

Além do impacto na saúde, os efeitos dessa epidemia podem ser sentidos na área social e econômica. Pelas contas da OMS, bilhões de dólares serão perdidos na China, Índia e Rússia nos próximos dez anos em razão de enfartes, derrames cerebrais, câncer e diabete. Somente na China, a perda poderá chegar a US$ 558 bilhões.

A meta de reduzir todos os anos em 2% a taxa de mortalidade somente será alcançada se um pacto for firmado, em cada país, entre governo, indústria, sociedade civil e toda comunidade, observa o relatório. Se medidas adequadas forem adotadas, será possível evitar 36 milhões de mortes até 2015. Desse total, 80% em países pobres ou em desenvolvimento.

O documento da OMS enfatiza que, ao contrário do que muitos pensam, pessoas de classes economicamente menos privilegiadas são extremamente suscetíveis a tais doenças. Segundo a OMS, pobreza e exclusão social aumentam o risco de se desenvolver doenças crônicas, suas complicações e a morte. Tais grupos são mais vulneráveis ao stress, têm menos opção de escolha na alimentação, acesso restrito a serviços de saúde. Como o tratamento é caro, pessoas que passam a ter doenças crônicas ficam diante de um impasse: têm de escolher entre sofrer ou talvez morrer sem tratamento ou seguir uma terapia, que poderá levar a família a maiores dificuldades financeiras, observa o relatório.