Título: Escolaridade do operário brasileiro continua baixa
Autor: Vânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2005, Economia & Negócios, p. B7

BRASÍLIA - O baixo nível de escolaridade dos trabalhadores poderá comprometer a competitividade do Brasil, alertou ontem o Serviço Social da Indústria (Sesi), ao divulgar pesquisa sobre o perfil dos empregados formais. Na média, esses trabalhadores têm 6 anos de escola, ante 9 na Argentina e 12 no Chile ¿ muito semelhante ao do europeu. Para o superintendente nacional do Sesi, Rui Lima, melhorar a escolaridade da mão-de-obra é o grande desafio do País hoje, até para poder competir com os parceiros do Mercosul. A baixa escolaridade poderá impedir que trabalhadores brasileiros menos qualificados continuem se beneficiando da tendência de aumento do emprego com carteira assinada que vem sendo registrada pelo Cadastro Geral de Empregados e Demitidos do Ministério do Trabalho.

Com mão-de-obra abundante, a indústria, por exemplo, vem trocando trabalhadores analfabetos por outros mais qualificados. Dados do estudo do Sesi apontam queda de 30% no número de trabalhadores analfabetos nas indústrias entre 2001 a 2003.

Os dados do estudo, elaborado com base na Relação Anual de Informações Sociais (Rais), demonstram que elevar a qualificação dos trabalhadores não será fácil. Embora a taxa nacional de analfabetismo tenha caído de 1,7% em 2001 para 1% em 2003 (na indústria, o porcentual é um pouco mais alto, chegando a 1,3%), passa de 43% o porcentual de trabalhadores sem o ensino médio completo.

A radiografia dos trabalhadores ainda contempla renda, sexo, faixa etária e distribuição geográfica. A maioria (59,5%) dos 29,5 milhões de trabalhadores com carteira assinada em 2003 ganhava entre 1e 3 salários mínimos, 60% eram do sexo masculino e estavam na faixa etária de 30 a 49 anos. Mais de 30% trabalhavam no setor de serviços e estavam concentrados na Região Sudeste.

A pesquisa também serve para comprovar as disparidades regionais do Brasil. As regiões mais pobres, como o Nordeste, concentram a maioria dos trabalhadores analfabetos e de menor renda. Do total de trabalhadores abrangidos pela Rais, 46,7% dos analfabetos viviam no Nordeste. Cerca de 41,7% dos trabalhadores nordestinos ganhavam até um salário mínimo por mês. As Regiões Sudeste e Centro-Oeste concentravam os maiores rendimentos. No Sudeste, 40,9% recebiam mais de 3 salários mínimos e, no Centro-Oeste essa proporção era de 37,8%.

Nos dados gerais, a pesquisa demonstra que, no intervalo de 2 anos analisados, o contingente de trabalhadores com carteira assinada aumentou 8,7%, e o rendimento médio caiu.