Título: Empresa de munição financiou deputado
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2005, Metrópole, p. C3

Empresa de cartuchos financiou dois terços de campanha de Fraga e injetou dinheiro até na eleição de Lula

Estrela do primeiro programa de TV da propaganda contra a proibição da venda de armas no Brasil, o deputado Alberto Fraga (PTB-DF) teve quase dois terços de sua campanha em 2002 legalmente financiados pela Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), fabricante nacional de munição. Ele recebeu R$ 60 mil, em duas contribuições de R$ 30 mil, que somaram 63,5% dos R$ 94.417,64 arrecadados para elegê-lo. Registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que a CBC financiou no mesmo ano mais 13 campanhas, como a do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (R$ 100 mil), cujo governo restringiu o porte de armas e apóia o fim da venda.

"Nas minhas palestras, sempre falo que recebi essas contribuições", disse Fraga. "As ONGs que defendem o sim recebem muito mais e vocês não falam. ONGs que receberam mais de R$ 90 milhões. E vocês não falam!" O parlamentar questionou a pesquisa feita pelo Instituto Ipsos, com mil pessoas, que apontou que 76% dos entrevistados são a favor da proibição do comércio de armas, 21% são contra e 3% não responderam ou não opinaram, em sondagem feita de 25 a 29 de agosto. "Não acredito. Tenho visto as opiniões das pessoas. Muitos são contra a proibição."

A CBC gastou R$ 764.400,00 com o financiamento de campanhas em 2002. Além de Fraga e Lula, receberam da empresa os candidatos a deputado federal Ary Kara (PTB-SP), com R$ 15 mil; Josias Quintal (PSB-RJ), R$ 40 mil; Luiz Carlos da Silva (PT-SP), R$ 50 mil; Sigmaringa Seixas (PT-DF), R$ 40 mil; Marco Vinicio Petrelluzzi (PSDB-SP), R$ 30 mil; Nelson Fernandes (PPS-RS), R$ 30 mil; Pedro Ruas (PDT-RS), R$ 34 mil, e Robson Tuma (PFL-SP), com R$ 50 mil.

Também receberam doações de campanha os candidatos a senador Antônio Feijão (PSDB-AP), R$ 150 mil; Artur da Távola (PSDB-RJ), R$ 7.400,00, e Rubens Moreira Mendes Filho (PFL-RO), R$ 40 mil. O Comitê Financeiro Único do PPS gaúcho recebeu R$ 100 mil. Sigmaringa Seixas, que disse ser a favor da proibição da venda de armas, confirmou ter recebido os R$ 30 mil da CBC. "Na época não se discutia essa questão das armas."

O procurador de Justiça Marco Vinicio Petrelluzzi, que disse ser a favor do desarmamento, confirmou ter recebido da CBC. "Não me pediram nada em troca." O Estado não conseguiu falar com a Assessoria do presidente da República nem com os demais beneficiados.