Título: Parlamento da AP exige segurança
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2005, Internacional, p. A15

O Conselho Legislativo Palestino (Parlamento), reunido em Ramallah, na Cisjordânia, e em Gaza aprovou ontem uma moção pedindo ao presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, a destituição do gabinete do primeiro-ministro Ahmed Korei por não conseguir impor a ordem nas áreas palestinas. Os parlamentares em Gaza e Ramallah se comunicaram por videoconferência e aprovaram por 43 a 5 um relatório exigindo que Abbas forme, em um prazo de duas semanas, um governo transitório destinado a durar até as eleições legislativas em janeiro, segundo explicou o presidente do Parlamento, Rawhi Fattuh. Nesses termos, o texto permite ao líder palestino nomear um novo gabinete, mantendo Korei na chefia.

Mas se Abbas não atender à recomendação, os deputados poderão levar à votação uma moção de desconfiança. Nesse caso, Korei seria obrigado a deixar o cargo. Aparentemente, o objetivo dos deputados é a remoção de alguns ministros, em especial o do Interior e da Segurança Nacional, Nasr Yusef, responsabilizado pela falta de segurança nos territórios.

Em nova amostra do caos na região, durante a sessão legislativa em Gaza policiais da Autoridade Palestina invadiram brevemente o edifício do Parlamento para exigir uma ação firme do governo contra militantes de grupos armados. Os manifestantes protestavam contra o assassinato de um membro das forças de segurança por ativistas do Hamas, durante batalha de rua em Gaza com a polícia no domingo. No tiroteiro também morreram dois pedestres e 50 pessoas ficaram feridas. "Queremos que a Autoridade Palestina tome uma posição firme em relação ao Hamas. Nosso sangue está jorrando e eles não fazem nada", disse à Reuters um policial que não se identificou. Do lado de fora do prédio, alguns policiais atiraram para o alto, em protesto. Abbas está em Gaza, mas não se encontrava na sede local do Parlamento.

Desde o começo da intifada (levante contra a ocupação israelense), em 2000, os militantes de grupos armados assumiram gradualmente mais poder nas ruas. Ao mesmo tempo, a polícia palestina perdeu poder, como conseqüência da destruição de sua infra-estrutura pelos bombardeios de Israel e da desorganização das forças de segurança, divididas em unidades dirigidas por chefes rivais.

Após ser eleito presidente, em janeiro, Abbas iniciou reformas nas forças de segurança e buscou o diálogo com os grupos radicais, mas ele se nega a desarmá-los à força por temer mergulhar a região numa guerra civil. A crise se agravou na Faixa de Gaza depois que Israel retirou no mês passado suas tropas e colônias desse território e o entregou ao controle da AP. O Hamas e a Jihad Islâmica, bem como facções da Fatah (o grupo político de Abbas) disputam poder em Gaza e na Cisjordânia, com a intenção de conquistar apoio para as eleições de janeiro.

"O que está acontecendo é caos e irresponsabilidade. As pessoas estão dizendo que este é um teste para o Estado palestino. Se continuarmos neste caminho, essas pessoas irão dizer que nós não merecemos um Estado." disse ontem Abbas na TV palestina.