Título: Bush indica advogada para Supremo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2005, Internacional, p. A14

O nome de Harriet Miers, chefe do setor jurídico da Casa Branca e fiel assessora do presidente, não agrada à direita religiosa

O presidente dos EUA, George W. Bush, abriu ontem uma nova frente de críticas a seu governo ao indicar para uma vaga na Suprema Corte de Justiça a advogada Harriet Miers, de 60 anos, que não foi bem recebida pela direita religiosa. Se seu nome for confirmado pelo Senado - controlado pelos governistas - Miers será a terceira mulher a ocupar o posto. Ela substituirá a juíza Sandra Day O'Connor, que vai aposentar-se. Miers é advogada e chefe do setor jurídico da Casa Branca, onde se destaca como integrante do grupo de assessores mais leais a Bush. Trabalhou para grandes corporações, como Disney e Microsoft, e foi advogada pessoal de Bush. "Ela dedicou sua vida ao mandato da lei e à causa da justiça", disse Bush na Casa Branca, tendo Miers ao lado. "Se meu nome confirmado, reconheço que terei uma enorme responsabilidade para manter nosso sistema judicial forte e ajudar a garantir que a Corte cumpra suas obrigações de aplicar estritamente as leis e a Constituição", declarou a advogada.

Como a juíza conservadora Sandra O' Connor se revelou uma moderada em temas sociais, sobretudo na questão do aborto, a direita religiosa contava agora com a nomeação de alguém mais ideológico, que pudesse direcionar a Corte a seu favor. Miers não tem experiência como juíza e suas posições nos temas polêmicos são desconhecidas.

A oposição democrata reagiu com cautela e aparente simpatia. O líder democrata no Senado, Harry Reid, elogiou Miers, destacando que "a Suprema Corte se beneficiará com um juiz que tem verdadeira experiência como advogada". Menos conciliadora, a senadora democrata Barbara Boxer criticou Bush por ter escolhido uma aliada política sem trajetória no Judiciário. No entanto, dos 111 que ocuparam o cargo, 39 não tinham experiência como juízes.

O presidente do direitista grupo Public Advogate, Eugene Delgaudio, qualificou a nomeação de "uma traição aos eleitores conservadores que levaram Bush à Casa Branca em 2000 e 2004".

Ontem o novo presidente da Suprema Corte, John Roberts, de 50 anos, abriu a primeira sessão do período 2005-2006, numa breve cerimônia da qual Bush tomou parte. Roberts se tornou o mais novo chefe da Casa em mais de dois séculos.