Título: UE e Turquia iniciam negociação
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2005, Internacional, p. A13

Áustria retira restrições à admissão da Turquia, país de maioria muçulmana, como membro pleno no bloco europeu

A União Européia e a Turquia iniciaram na madrugada de hoje em Luxemburgo negociações históricas para o ingresso turco no bloco. "Não é só a Turquia que sairá ganhando, mas também a União Européia", afirmou o chanceler turco, Abdullah Gul, na breve cerimônia de abertura, realizada horas depois que seu governo concordou com as normas propostas pela UE para o processo. Se tudo der certo, a Turquia será membro do bloco dentro de 10 ou 15 anos. "Este é um momento histórico", exultou Gul. "Hoje começam as negociações que farão da Turquia um membro pleno da União Européia", acrescentou, numa referência a uma das exigências-chave de seu país.

Essa condição, membro pleno, era vetada pela Áustria, que queria fazer da Turquia apenas um Estado associado, com relações políticas e econômicas privilegiadas. Como as normas da UE prevêem que para um novo membro ser aceito é necessária a aprovação unânime dos demais, a simples objeção da Áustria estava barrando toda a negociação. Chanceleres dos países membros da União Européia, cuja presidência rotativa é exercida pela Grã-Bretanha, levaram mais de 24 horas para demover o governo austríaco de seu propósito.

O governo turco já havia dado uma resposta clara aos europeus. "A Turquia jamais aceitará integrar a comunidade européia como sócio de segunda classe", advertira Akif Beki, porta-voz do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan. Com o fim da objeção da Áustria, os chanceleres da UE redigiram a proposta de negociação e a enviaram a Ancara. "Acho que encontramos a fórmula aceitável", comentou o chanceler britânico, Jack Straw. O fim do impasse foi um alívio para a Grã-Bretanha, a maior defensora da entrada da Turquia no bloco.

Já satisfeito com o resultado, Gul lembrou que a Turquia é um país muçulmano que mantém relações privilegiadas com diversos países da Ásia Central. "Quando a Turquia incorporar-se à União Européia, aqueles países (da Ásia Central) estarão ligados de alguma forma à comunidade européia."

O chanceler turco recusou-se a divulgar os termos da proposta que lhe foi enviada pelos 25 membros da UE. Mas, segundo a BBC, o governo austríaco teria removido todos os obstáculos que levantara para o ingresso pleno dos turcos na instituição.

Em troca, a União Européia concordou em iniciar negociações para a admissão da Croácia - abertas também na madrugada de hoje em Luxemburgo. Enquanto 80% dos austríacos rejeitam a associação com os turcos alegando motivos religiosos, econômicos e históricos, 45% querem os croatas como membros plenos da UE.

Para ser admitida, a Turquia terá de fazer uma série de ajustes, como implantar no país os padrões democráticos europeus, respeitar integralmente os direitos humanos e adequar sua economia às regras do bloco. E, mesmo assim, seu ingresso não estará totalmente garantido. A Constituições de alguns países, como a França, exige a convocação de um referendo para que o povo se pronuncie sobre a admissão de um novo sócio.