Título: Laudo de Delmonte indicou que prefeito foi torturado
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/10/2005, Nacional, p. A7

A perícia feita pelo médico legista Carlos Delmonte Printes no corpo de Celso Daniel, em janeiro de 2002, indicou que o prefeito de Santo André foi torturado com crueldade no cativeiro antes de ser assassinado. Seu laudo refuta também a hipótese de que Celso Daniel possa ter sido assassinado em seguida a um caso de seqüestro comum. Em depoimento prestado em agosto a promotores do Ministério Público de São Paulo, Delmonte, autor do livro Perícia na Tortura, disse que os assassinos de Celso Daniel demonstraram 'raiva e desprezo' ao matá-lo - o que não é a regra nos crimes contra o patrimônio, em que se enquadram os seqüestros comuns. Como evidências da tortura a que foi submetido o prefeito, Delmonte apontou a sua expressão de terror, duas queimaduras nas costas, produzidas por um cano de arma aquecido, e outras lesões no corpo, provocadas por estilhaços de balas que foram disparadas perto de Daniel apenas com o objetivo de aterrorizá-lo.

Outros sinais de violência incomum foram os tiros diretamente no rosto e no tórax do prefeito, que, segundo a perícia de Delmonte, permitem concluir que Daniel fora submetido a um 'esculacho' - jargão policial usado para descrever as execuções com requintes de crueldade.

Aos promotores, Delmonte disse que, antes de examinar o corpo de Celso Daniel, nunca havia testemunhado um 'ritual de tortura, crueldade e desproporcionalidade' similar.

Ao depor na semana passada na CPI dos Bingos, Bruno Daniel, irmão do prefeito, citou a perícia de Delmonte para sustentar a tese de que a morte de Celso Daniel foi encomendada e não pode ser tratada como um crime comum. Depois de ouvilo, a CPI aprovou a convocação do perito, mas não marcou data para o depoimento.