Título: Documentário espanhol critica presidente
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/10/2005, Nacional, p. A9

Os Mil Dias de Lula, documentário da TVE, foi levado ao ar na noite de ontem na Espanha pela emissora estatal, apenas 21horas antes do desembarque do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Salamanca, onde participa amanhã e sábado da 15.ª Reunião de Cúpula Iberoamericana. Em tom crítico e distante das superficiais abordagens da imprensa internacional sobre o tema, o programa foi conduzido por Juan Antonio Sacaluga, por uma das referências do jornalismo espanhol, que teve seu pedido para entrevistar o protagonista do documentário negado pelo Palácio do Planalto.

Sem as respostas diretas de Lula às suas interrogações, Sacaluga buscou as declarações do então presidente do PT, Tarso Genro, que acentuou a necessidade de continuidade do projeto do atual governo, por meio da reeleição de Lula em 2006.

Mas o jornalista também buscou os pontos de vista mais críticos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do ex-ministro da Educação Cristovam Buarque, que se bandeou recentemente do PT para o PDT, depois de deflagrado o escândalo de corrupção no partido e no governo.

'Lula cometeu o erro de buscar a aliança com os setores mais suspeitos da direita', resumiu o ex-presidente FHC. 'Lula não é um líder. Ele é símbolo. A falta de liderança põe, agora, em risco esse símbolo', completou o ex-presidente.

Apesar de escorregar ao enfocar o MST como um movimento pacífico, o programa apresentou um quadro conciso do que vem ocorrendo no Brasil desde 1.º de janeiro de 2003.

Começou mostrando o desfile do último 7 de setembro, em Brasília, para assinalar aos telespectadores espanhóis que Lula vivia um momento delicado de seu governo e sob o risco de desmoronamento de seu projeto político.

No desfile, Sacaluga afirmou que a organização tentara apagar os sinais de protesto, que a ausência de grande platéia ressaltou o clima de 'depressão política'. 'A corrupção acabou corroendo a máquina de seu partido', afirmou, para logo em seguida explicar do que trata o 'mensalão'.

AVANÇOS

Nos 45 minutos, o programa mostrou que houve avanços incontestáveis na área econômica e a crise política não contaminou seus resultados - um dado para tranqüilizar os investidores espanhóis. Porém, Sacaluga destacou três pontos.

Primeiro, que o Brasil se tornou a terceira potência agrícola mundial, mas os avanços nesse setor não se estenderam aos trabalhadores rurais. Segundo, que os líderes sindicais que hoje tentam blindar o presidente da crise política compõem a parcela assalariada que desfruta da situação econômica mais favorável.

Terceiro, que o reconhecimentos dos rivais políticos sempre vêm na forma de 'elogios envenenados'. 'A economia está melhor. O presidente Lula teve a boa idéia de não mudar os fundamentos', afirmou FHC.