Título: Vírus da aftosa pode ser mutante
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/10/2005, Economia & Negócios, p. B1

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, admitiu ontem, em Eldorado, que a mutação do vírus pode ser uma das explicações para o surto de aftosa que atinge a região. Além do foco constatado na fazenda Vezozzo, onde 582 bovinos e 7 suínos foram abatidos, há suspeitas de pelo menos dois outros focos no município de Japorã.

Segundo Rodrigues, cientistas brasileiros e estrangeiros estão analisando amostras recolhidas dos animais infectados para o estudo virológico. 'Precisamos saber como a doença apareceu, e todas as possibilidades estão sendo consideradas', disse, lembrando que essa é apenas uma hipótese, reforçada por alguns sintomas que os animais doentes apresentaram. Caso se confirme, a situação ficará ainda mais complicada, pois todo o rebanho já vacinado poderá ser suscetível à contaminação. De acordo com o veterinário Rubens Grespan, que atende várias propriedades na região, o vírus da aftosa é complexo e tem três tipos e vários subtipos, por isso ele não descarta a hipótese de uma mutação. O que afetou o rebanho da fazenda Vezozzo é do tipo O, mas ainda não se sabe o subtipo. A doença atinge praticamente todos os animais que têm unha ou casco partido ao meio.

Rodrigues vai se reunir com coordenadores de defesa sanitária de todos os Estados para discutir uma estratégia contra a doença. Acompanhado do secretário estadual de Agricultura, Dagoberto Nogueira Filho, o ministro foi à estrada de acesso à fazenda Vezozzo para constatar o funcionamento das barreiras. Ele orientou um funcionário da Agência Estadual de Sanidade Animal e Vegetal sobre a forma correta de desinfetar os veículos.

Cobrado pelo fazendeiro Fábio Barbanti, que tem 3.800 animais interditados numa fazenda vizinha, o ministro disse que não podia garantir a indenização do rebanho, caso venha a ser abatido. 'O governo não tem fundos para isso'. Em seu auxílio, o secretário Nogueira Filho disse que o governo estadual garantiria. Barbanti não ficou convencido. 'A verba do fundo estadual contra a aftosa não é suficiente', reclamou. Para a dona da fazenda Vezozzo, Emília Furquino Vezozzo, o ministro prometeu que a indenização será paga assim que o trabalho de avaliação for concluído.

PARAGUAI

Brasil e Paraguai vão ampliar a colaboração mútua para reduzir os riscos de aftosa na região de fronteira. Roberto Rodrigues reuniu-se com o diretor do Serviço Nacional de Qualidade e Saúde Animal do país vizinho, Hugo Adolfo Corrales Irrazabal, para discutir as novas ações.

O Brasil manterá o fornecimento de vacinas aos criadores paraguaios. Os dois países atualizarão os cadastros de produtores situados numa faixa de 30 quilômetros de cada lado da divisa. Irrazabal disse que seu país não registra aftosa desde 2003. Na área de fronteira, o último foco foi confirmado em 2002, na Estância San Francisco, e cerca de 750 animais foram abatidos. O governo paraguaio fechou a fronteira para a entrada de animais vivos e veículos suscetíveis de portar o vírus. Forças do Exército dão apoio às 15 barreiras instaladas ao longo da divisa.

O país tem 10 milhões de cabeças e exporta carne para 35 mercados internacionais. 'Ainda não sofremos restrições por causa desse surto, mas é um risco', disse o paraguaio.

'CAOS'

Na região de Eldorado, a economia começa a ser afetada.

Três frigoríficos, um deles o Boifran, de Eldorado, estão parados. Se não for autorizada a comercialização da carne desossada, os 2 mil funcionários entram em férias coletivas a partir de segunda-feira. A prefeita Mara Caseiro (PDT) disse que a pecuária representa 65% do ICMS do município, em torno de R$ 180 mil por mês. 'Está sendo um caos', disse.