Título: Contágio pode ter sido criminoso
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/10/2005, Economia & Negócios, p. B1

O Serviço de Inteligência do Departamento de Operações de Fronteira (DOF) começou a investigar ontem a possibilidade de crime no surgimento do foco de aftosa na Fazenda Vezozzo, em Eldorado, extremo sul de Mato Grosso do sul. O trabalho policial foi pedido pelo secretário estadual de Produção , Dagoberto Nogueira Filho. 'Alguém plantou o vírus no rebanho ou houve algum problema com a vacina', disse.

Ele disse que a dona da fazenda, Maria Vezozzo, cumpre rigorosamente as medidas preventivas contra as doenças do gado. 'Eu conheço a família.

Eles fizeram o que poucos pecuaristas fazem no Estado: contrataram veterinários para fazer a imunização e têm certificado. A maioria usa peões, dispensando despesas com especialistas'. O secretário comentou que a mesma desconfiança existe do lado paraguaio.

Depois de lembrar que desde 1999 não ocorria um caso do gênero no Estado, ele ressaltou que o governo federal tem uma ponta de culpa porque não avaliou o tamanho do desastre na economia local e nacional, tampouco a repercussão dos fatos. 'Infelizmente, teve que acontecer isto para eles acordarem.' Nogueira lamentou a dificuldade de indenizar os proprietários da fazenda. Foram sacrificados 584 bois da raça Limousin, cujo prejuízo será ressarcido pelo Estado, conforme o secretário, enfatizando que 'não há verba para isso'.

As perdas com suspensão da venda de carne, leite e derivados também serão ressarcidas.

Ele disse que existe um fundo estadual para isso. Mas primeiro é preciso apurar se o foco foi criminoso, problema com a vacina ou um novo vírus. 'Também nem sei quanto dinheiro existe nesse fundo.' O presidente da Agência Estadual de Defesa sanitária, Vegetal e Animal, João Crisóstomo Muad Cavalléro, disse que o fundo a que se referiu o secretário não recebe verba da União. 'Todo o dinheiro que entra mensalmente soma R$ 1,2 milhão, servindo exclusivamente para despesas da instituição.' O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que viajou ontem para Eldorado a fim de ver os trabalhos de combate à aftosa na Fazenda Vezozzo, ao passar por Campo grande conversou com as autoridades sanitárias de Mato Grosso do Sul, do Paraguai e pecuaristas dos cinco municípios com rebanho interditado.

Rodrigues evitou comentar a possível ação criminosa no caso. 'Até que seja provado o contrário, vou encarar o fato como acidente', observou. Sobre a ação do DOF no caso, disse: 'Não acredito em nada, é preciso esperar o fim da investigação'.

Em seguida, ele anunciou a liberação de R$ 3,5 milhões, explicando que 'esse valor deve ser elevado na próxima semana. Para o ministro, o foco de aftosa não foi conseqüência de nenhum procedimento negligente da União. O trabalho de defesa sanitária teria R$ 79 milhões em todo o País, mas só R$ 12 milhões foram usados.

Entretanto, o secretário nacional de Defesa Agropecuária, Gabriel Alves Maciel, em entrevista separada do ministro, admitiu que a redução dos recursos poderia ter influenciado o que aconteceu em Mato Grosso do Sul.