Título: UE acusa Brasil de falta de preparo
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/10/2005, Economia & Negócios, p. B1

Os 25 países da União Européia (UE) votaram e aprovaram ontem a proposta da Comissão Européia de suspender as importações de carne brasileira. A UE afirma que a volta do foco de aftosa no Brasil foi resultado da falta de preparo do País para aplicar as medidas fitossanitárias propostas por Bruxelas.

A comissária agrícola da UE, Marianne Fischer Böel, afirmou que o embargo não pode ser considerado uma ação protecionista, mas uma forma de defesa sanitária. A medida européia abrange de 55% a 60% das exportações brasileiras para a UE. O embargo entrará em vigor em cerca de dez dias e valerá para carne desossada e maturada. 'A decisão pode ser revista quando houver novas informações sobre a situação no País', afirmou Philip Tod, porta-voz da UE.

A restrição impedirá que as carnes de bois abatidos a partir de 30 de setembro em Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná entrem no mercado europeu. Os carregamentos que já estiverem a caminho da Europa serão devolvidos, ainda que a opção da destruição possa ser considerada por alguns países da UE. O bloco deixou claro que espera que o Brasil aceite a devolução.

O embargo não abrange as importações provenientes do Espírito Santo, Santa Catarina, Goiás e Minas Gerais (exceto algumas municipalidades) e partes do Mato Grosso. 'A defesa fitossanitária é crucial para a UE e temos de nos proteger. O Brasil não deve encarar essa medida como uma ação protecionista, até porque estamos importando cada vez mais carnes e precisamos de fornecedores', afirmou Marianne ao Estado.

Antes da votação de ontem, os delegados europeus se reuniram com a missão brasileira em Bruxelas e voltaram a insistir que o Brasil adote um plano de ação fitossanitária. Eles disseram que estavam decepcionados e preocupados com o comportamento do governo.

A UE quer um plano claro de rastreabilidade e certificação e alerta que os problemas são os mesmos identificados há anos no Brasil. Um relatório sobre o País será preparado e deverá ser publicado em uma semana.

Os europeus admitem que podem rever a decisão. Isso dependerá das informações passadas pelo Brasil e das medidas tomadas pelo governo. Bruxelas, porém, deixou claro que não gostou de não ter sido notificada diretamente sobre o foco de aftosa e de ter sido informada pela imprensa.