Título: Pela 1ª vez, comissão ouve um presidiário a caráter
Autor: Eugênia Lopes e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/10/2005, Nacional, p. A10

Pela primeira vez, um Comissão Parlamentar de Inquérito recebeu uma testemunha vestida de presidiário e que sequer sentou à mesa diretora dos trabalhos. A inovação foi do doleiro Najun Turner, um velho personagem de CPIs, que tornou-se conhecido em 1992 quando esteve à frente da chamada operação Uruguai, criada para justificar empréstimos milionários do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Além de ter sido figurinha carimbada na CPI do PC, ele também foi uma dos suspeitos citados pela CPI dos Precatórios e também na CPI do Banestado que apurou a evasão de divisas. Preso desde 31 de março deste ano e condenado a um total de 10 anos, Turner apresentou-se a CPI com o uniforme amarelo quase laranja e causou menos impacto pelo que disse e mais pela maneira como se comportou: absolutamente à vontade, como se estivesse contando casos na varanda de sua casa.

Com as costas jogadas para trás, um dos braços desleixadamente posto sobre o encosto da cadeira, enquanto com o outro empunhava o microfone, Turner deu aulas de como funcionava o mercado, filosofou utilizando-se de preceitos de sua religião, o judaísmo, e pouso acrescentou de novo.

Quando cansava, esticava uma das pernas e continuava com as negativas.

Ele não confirmou que teria repassado R$ 8 milhões ao líder do PP, José Janene, e ao ex-presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, como revelou a CPI seu ex-colega de cela, o doleiro Antônio Claramund, também conhecido como Toninho da Barcelona. Também negou supostas relações com o empresário Marcos Valério de Souza. Ainda, durante o seu depoimento, negou ser um dos donos da empresa Natimar. "Ele é um anjinho", ironizou o deputado Onix Lorenzonni.

Mas o doleiro, o doleiro que antes de cada frase utiliza-se como muleta da frase "vou explicar", explicou a causa de tanta negativa: "Deus deu dois olhos, duas orelhas, mas uma única boca ao ser humano porque a língua é uma arma mais poderosas de que uma bomba de hidrogênio", disse.

Na CPI, nem mesmo um dos agentes que fez o traslado do preso de São Paulo até Brasília sabia explicar porque o figurino de presidiário foi o escolhido para que Turner se apresentasse à CPI. "nós já pegamos ele vestido com essa roupa", contou um dos agentes.

Além do traje, ele trouxe memórias da prisão, alguma conflitantes.

Disse que somente tinha tomado conhecimento de um único depoimento na CPI: o proferido pelo ex-deputado Roberto Jefferson. Mas logo em seguida caiu em contradição e contou detalhes do depoimento feito por Toninho Barcelona na audição conjunta das CPIs dos Correios e do Bingos.