Título: Berzoini é eleito presidente do PT, por pequena margem
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/10/2005, Nacional, p. A14

O deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP) é o novo presidente do PT. Por volta das 18 horas de ontem - com cerca de 94% da apuração concluída e uma diferença superior a 6 mil votos - o candidato da Democracia Socialista, Raul Pont, telefonou para o adversário do Campo Majoritário e admitiu a derrota. "Temos um desafio grande pela frente que é manter o partido unido e estabelecer uma relação razoável entre o PT, a bancada e o governo", afirmou Berzoini. Pont declarou-se satisfeito com o resultado. "A metade do partido está de acordo com as nossas propostas; o governo terá de ouvir mais o PT." A última parcial divulgada ontem, às 19 horas, dava ao deputado estadual gaúcho 105.257 votos, ou 48,4%; Berzoini tinha 112.348 votos, 51,6%. Os números finais serão divulgados amanhã.

Depois do sinal verde de Pont, o coordenador das eleições petistas, Francisco Campos, confirmou o resultado. "Com 95,6% dos votos totalizados, é matematicamente impossível que Pont ultrapasse Berzoini", declarou Campos.

Com apoio de basicamente todas as correntes de esquerda e centro do PT, Pont cobrou do presidente Lula e do governo maior "sintonia" com o partido. "Sem mexer na taxa de juros e outras iniciativas, acho muito difícil chegar a essa sintonia, pré-requisito para disputar a reeleição." A esquerda quer principalmente mudanças na política econômica e na política de alianças.

Berzoini admite que terá de "dialogar muito dentro do Diretório Nacional e da executiva", para reunificar o PT. "O fundamental na área econômica é aprofundar a execução orçamentária, ter uma visão menos conservadora e acelerar a queda de juros", disse. "Mas o fundamental no partido é permitir que se faça esse debate de idéias, entre quem defende ajustes no modelo atual - que é vitorioso - e quem defende outro modelo." O diretório deve fazer isso com "tranqüilidade" para definir "posições claras". Nenhuma dessas posições, disse, deverá configurar "oposição" ao governo Lula.

Em números absolutos, Berzoini deve fechar uma votação menor no segundo turno do que alcançou na votação do dia 18 de setembro, destacou o terceiro colocado na eleição presidencial do PT, Valter Pomar, da Articulação de Esquerda. "O ex-Campo Majoritário obteve uma vitória eleitoral, mas foi uma derrota política", disse. "Se o grupo do Plínio de Arruda Sampaio (4.º colocado) não tivesse saído do PT, a vitória seria da esquerda, do Raul."

O Campo Majoritário caiu de 42 para 34 das 81 cadeiras no diretório, instância máxima do partido. Coordenador do grupo moderado que domina o PT há dez anos, Francisco Rocha acredita que a redução da influência do Campo no comando do PT é relativa. "Nós construímos nossa maioria e mantemos a direção em quase todos os Estados", declarou. Para o presidente interino, Tarso Genro, sem maioria isolada de nenhuma corrente, o diretório terá de negociar mais e seu sucessor terá uma "governabilidade mais qualificada".