Título: Bastos: crime começa na consulta sem recibo
Autor: Guilherme Evelin
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2005, Nacional, p. A5

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, prometeu rigor na apuração das acusações de envio ilegal de dinheiro ao exterior - inclusive as que envolvem integrantes do PT - e disse que "é preciso guardar o caixa 2 para os bandidos". Segundo ele, ao combater a lavagem, o ministério tenta desenvolver nas pessoas a consciência de que "dinheiro de caixa 2 não é dinheiro bom, não deve ser usado". Thomaz Bastos criticou a "grande complacência para o dinheiro ilegal" no Brasil. Segundo ele, a ilegalidade está por toda parte e se dá em pequenas coisas, como "a escritura passada por menos do valor, o preço da consulta que, com recibo, é um e, sem recibo, é outra".

Ele disse que apenas os recursos de criminosos - como traficantes de drogas, de armas e de seres humanos - têm de ficar na ilegalidade. "Nosso esforço é para tirar (da ilegalidade) todo o outro dinheiro, das pessoas que, às vezes inadvertidamente, pagam por fora, aceitam a pressão do profissional liberal e conseguem desconto na consulta ou no trabalho feito sem recibo", disse na inauguração do Juizado Especial Federal (JEF) no Centro de Integração de Cidadania (CIC) de Francisco Morato, na Grande São Paulo.

O ministro declarou que já há inquérito na Polícia Federal (PF) para investigar o suposto esquema de evasão de divisas por integrantes do PT, "tanto que a relação das pessoas que sacaram dinheiro na agência de Brasília do Banco Rural foi desvendada pela PF". Segundo ele, a polícia e o Departamento de Recuperação de Ativos investigam o PT, em relação a recursos ilegais dentro e fora do País.

A repatriação do dinheiro, explicou Thomaz Bastos, está facilitada por um acordo de cooperação bilateral entre Brasil e EUA, firmado recentemente, que eliminou muitos entraves burocráticos. De acordo com o ministro, foi esse acordo que possibilitou à PF realizar a Operação Farol da Colina, "uma tradução livre de Beacon Hill, o nome de uma grande conta que havia no MTB Bank". Foi pela Beacon Hill que passaram os recursos dos 3.500 investigados por remessa ilegal de dinheiro ao exterior. "Há a prova material (da evasão de divisas), do envio do dinheiro, e agora as pessoas vão ter que explicar. No começo, a PF não pretende indiciar ninguém. Quer ouvir primeiro." Thomaz Bastos disse que não viu a lista dos 3.500 investigados "para não ter curiosidade".

O acordo com os EUA, disse o ministro, facilitará também o trabalho da Receita Federal para tentar repatriar o que saiu do País ilegalmente. "Hoje é mais rápido, as pessoas têm confiança umas nas outras, por telefone resolvem as coisas." Segundo ele, a intenção é firmar acordos semelhantes com outros 50 países até o fim do governo.