Título: PT quer investigação da era FHC
Autor: Guilherme Evelin
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2005, Nacional, p. A5
En nota oficial, partido ataca trabalho das CPIs e reitera que membros da Executiva não tinham conhecimento de caixa 2
O PT partiu para a ofensiva contra as CPIs instaladas no Congresso Nacional. Reunida ontem, a Executiva Nacional do partido aprovou nota em que cobra objetividade e foco nas investigações, além da apuração do nome de corruptores e de denúncias relacionadas ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "Não se pode, sob a desculpa de que alguns acontecimentos 'já pertencem à História, deixar de investigar processos notoriamente corruptos e ilegais, que precederam a situação atual", afirma a nota, em alusão a declarações de FHC de que as CPIs devem se concentrar na investigação sobre o governo Lula.
Sobre as investigações conduzidas pelo Congresso, a nota da Executiva do PT diz que elas "enfrentam os limites da sua partidarização oposicionista, falta de foco, e falta de interesse em aprofundar as suas investigações no sentido de buscar as raízes da corrupção brasileira, tão claras no processo de privatização selvagens e na influência do poder econômico em todos os processos eleitorais".
O presidente do partido, Tarso Genro, em entrevista, disse também que as CPIs não provaram, até agora, nenhum ato de corrupção no governo Lula e "devem uma explicação à sociedade brasileira". Cobrou ainda a elucidação da origem do dinheiro movimentado pelo esquema financeiro montado pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares e pelo empresário Marcos Valério de Souza.
"Primeiro, diziam que o dinheiro era das estatais, depois da publicidade, por fim de empresas privadas que estavam corrompendo o governo Lula. Nada foi provado, a não ser a ilegalidade do financiamento das campanhas, feito pelo Delúbio de acordo com a sua responsabilidade", disse Tarso, ao comentar as declarações do presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), de que o dinheiro do caixa 2 petista pode ter saído do exterior.
Ao cobrar que as investigações avancem para deslindar os nomes do corruptores, o presidente do PT disse que é preciso que a CPI aponte "de quem veio o dinheiro, para quem veio, por que veio e desde quando". "Não vale apurar até um certo ponto e parar", afirmou. "Se as CPIs não indicarem as fontes de financiamento, nós vamos suspeitar que elas não querem mais investigar".
Ao defender a investigação de denúncias sobre o governo FHC, Tarso argumentou sobre a necessidade de aproveitar o momento para "reduzir drasticamente a corrupção sistêmica no Estado brasileiro". "Pelo menos, da década de 90 para cá, é possível investigar. Tem documentos, tem informações, tem fatos divulgados pela imprensa", alegou.
Tarso deu outra estocada nos tucanos ao exaltar as ações da Polícia Federal no atual governo. "Por que antes a Polícia Federal não combatia com tanta intensidade o crime organizado? Por que hoje tem o dobro de inquéritos, buscas por lavagem de dinheiro, prisões?"
A nota também desmente declarações do ex-secretário-geral Silvio Pereira, publicadas pela Folha de S. Paulo, de que os 21 integrantes da executiva teriam conhecimento do caixa 2. "A executiva jamais tomou conhecimento, jamais autorizou, jamais discutiu, jamais orientou medidas neste sentido", diz o texto.
A executiva criou uma comissão para analisar proposta de anistia do líder na Câmara para cinco parlamentares suspensos por indisciplina. O perdão pode beneficiar os deputados Virgílio Guimarães (MG), Walter Pinheiro (BA), Paulo Rubem (PE), Mauro Passos (SC) e Dra. Clair (PR).