Título: As expectativas do consumidor
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2005, Economia & Negócios, p. B2

A Sondagem de Expectativas do Consumidor, feita pela FGV, mostrou ligeira reversão, para melhor, no estado de espírito da população, que havia acusado piora ininterrupta entre fevereiro e agosto. Pode-se supor, portanto, que essa mudança, em setembro, tenha relação com o início da queda da taxa básica de juros, determinada pelo Banco Central. A economia, notou o economista da FGV, Aluísio Campelo, "está com uma certa blindagem contra a crise política".

A rigor, nos últimos meses não houve nenhuma grande alteração nos fatores que influenciam o consumo. A estabilidade dos preços já predominava desde o final do primeiro semestre e a oferta de emprego cresce, em 2005, mais lentamente do que em 2004.

A leitura da sondagem, feita por departamentos econômicos de bancos ou de consultorias empresariais, parece mais otimista do que sugerem os números. O futuro (ou seja, os próximos seis meses) é visto com pessimismo por 37,3% dos entrevistados, ante 39,9%, no mês anterior. Na mesma base de comparação, os prognósticos otimistas aumentaram de 9,5% para 12,2%. E nada menos de 57,5% dos pesquisados consideraram ruim a situação econômica do País, ante 57,1%, em agosto.

É clara a relação entre o endividamento e as expectativas quanto ao futuro da economia, tendo aumentado de 28,3% para 31,9% - ou seja, 3,6 pontos - o porcentual dos que se declaram endividados. É o nível de endividamento mais alto desde julho de 2003 e confirma a avaliação dos analistas de que o motor da recuperação é o crédito, mais do que a renda. Daí o temor dos especialistas da FGV quanto ao risco de aumento da inadimplência.

No entanto, houve um nivelamento por baixo do consumo, pois caiu de 12,8% para 10,7% o porcentual de consumidores dispostos a adquirir bens de alto valor, nos próximos seis meses.

Embora a recuperação da confiança tenha sido modesta em setembro, é possível que a tendência positiva se acentue no final do ano, se a queda do juro básico se transferir para o crédito ao consumo e se os salários reais continuarem a se recuperar devido à contenção da inflação, que eleva o poder aquisitivo. Mas note que apenas 12% das famílias têm tido sobra de recursos para poupar, porcentual que vem caindo desde os 16,9% de setembro de 2004, mostrando que são crescentes as dificuldades para equilibrar o orçamento doméstico.