Título: Argentina alcança Brasil em risco
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2005, Economia & Negócios, p. B1

Índice calcula a confiança do investidor Lembrança do calote não impediu que, ontem, risco país argentino tenha ficado por algum tempo abaixo do brasileiro

A Argentina chegou a registrar ontem um risco país inferior ao do Brasil, atingindo 342 pontos contra 343. No final do dia, no entanto, as posições se inverteram e o risco argentino fechou em 343 pontos, 2 pontos acima do brasileiro (341). O risco país, tão comentado entre economistas, é um indicador que mede a confiança do mercado internacional na capacidade de uma nação pagar suas dívidas. Mas o que se questiona é como a Argentina, que em 2001 deu calote no pagamento da sua dívida privada, pode ter risco igual ao do Brasil, que vem cumprindo suas obrigações em dia e cujos fundamentos econômicos são elogiados por vários especialistas internacionais. Segundo o economista Antônio Madeira, da MCM Consultores, a resposta está exatamente no calote, tão criticado e temido pelo mercado financeiro.

Ao declarar moratória, a Argentina reestruturou sua dívida, alongou os vencimentos dos papéis e amenizou as despesas com juros. "Com isso, a probabilidade de entrar novamente em default nos próximos 5 ou 6 anos é muito reduzida. Até porque o volume devido agora é menor", diz Madeira, ressaltando que o risco se refere aos papéis trocados durante a reestruturação. Antes de fechar a renegociação, neste ano, o risco da Argentina estava em 6.600 pontos e caiu para 900, após o acordo entre os investidores.

Mas a melhora do indicador não significa que a economia do país vizinho esteja boa, avalia o economista Marcelo Allain, professor do MBA Fipe/USP. Na opinião dele, a Argentina é um país muito menos avançado que o Brasil em termos de fundamentos econômicos e solidez fiscal. "Do ponto de vista macroeconômico o quadro é frágil." A economista da Mellon Global Investments, Solange Srour Chachamovitz, concorda. Ela lembra que a inflação naquele país deve fechar o ano na casa de 10%, enquanto no Brasil pode ficar abaixo de 5%.

Além disso, as reservas estão em US$ 25 bilhões e as brasileiras, em US$ 52 bilhões. Em compensação, o crescimento econômico do país foi de 10% no segundo trimestre ante 5,8%, do Brasil. "Mas não acredito que seja um crescimento sustentável, já que a inflação está em alta", completa.

Allain lembra ainda que a Argentina não teve o mesmo sucesso que o Brasil em emissões externas neste ano. Enquanto a demanda pelos papéis brasileiros superou em mais de duas vezes a oferta inicial, a Argentina não lançou um título sequer. Alguns dizem que não houve procura. Outros afirmam que ela não quis pagar o prêmio de risco exigido pelos investidores. Este é o maior problema de um calote: as restrições do mercado de crédito internacional. O economista da Gap Asset Management, Alexandre Maia, ressalta que na atual liquidez do mercado externo, qualquer risco país tende a cair.

MAIS INFORMAÇÕES: pág. B3

O QUE É O RISCO PAÍS: Trata-se do indicador que mede a

confiança do mercado

internacional no pagamento das dívidas de uma nação.

COMO É CALCULADO: O risco país é expresso em pontos, dado pela diferença entre o que se

recebe para investir, por exemplo, em títulos públicos brasileiros em relação aos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, considerados os ativos mais seguros do mundo.

Ou seja, o risco de 341 pontos

significa que o Brasil pagará aos investidores 3,41% acima

dos juros pagos pelo

Tesouro americano.

RISCO BRASIL: Caiu ontem 1,16%, para 341 pontos.

RISCO ARGENTINO: Caiu ontem 1,72%, para 343 pontos.

PONTO A PONTO