Título: Salvaguarda pode piorar relação com a China, sugere embaixador
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2005, Economia & Negócios, p. B11

Para diplomata chinês, relacionamento não pode ser afetado por ´pequenos problemas´

O embaixador chinês no Brasil, Jiang Yuande, sugeriu ontem que o País pode sair perdendo por causa das divergências comerciais com a China. Ele afirmou que o bom relacionamento entre os dois países não pode ser prejudicado por 'pequenos problemas', referindo-se às salvaguardas contra produtos chineses. Essa foi a primeira manifestação pública do governo chinês sobre a regulamentação das salvaguardas. 'A China tem US$ 800 bilhões em reservas, que podem ser investidas, mas é preciso criar um bom ambiente no Brasil para a concretização dos investimentos chineses', disse Jiang, na conferência Efeito China, promovida pelo Conselho Empresarial BrasilChina. 'Para o Brasil exportar mais para a China, precisa ter espírito de conciliação, além de mais agressividade para conquistar o mercado.' O embaixador disse que ainda espera uma solução negociada para o conflito comercial, em vez da aplicação das salvaguardas. 'Devemos procurar uma solução por meio de consultas entre os dois países', disse. Segundo ele, na reunião realizada em Pequim, há duas semanas, houve negociações amigáveis entre o ministro chinês do Comércio, Bo Xilai, e o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. 'A porta ainda está bem aberta', frisou. Segundo Jiang, o Brasil é a maior fonte de déficit comercial da China na América Latina. 'Portanto, os chineses desejam que o Brasil também possa explorar maneiras de aumentar as importações da China', disse. 'Não queremos forçar um equilíbrio no comércio, mas queremos que o Brasil encontre maneiras de aumentar suas importações da China.' Jiang salientou que o porcentual do comércio bilateral que seria afetado pelas salvaguardas responde apenas por 2% do comércio bilateral, que neste ano deve ficar em torno de US$ 10 bilhões. 'É um pequeno problema', reiterou o embaixador. 'E, por isso, preconizamos o diálogo construtivo e amistoso, com resultados para as duas partes.' Jiang afirmou que a melhor solução para esses 'pequenos problemas' será a que tiver menor impacto sobre o comércio. VISITA O secretário-executivo do Ministério de Desenvolvimento, Ivan Ramalho, disse que o governo brasileiro aguarda para as próximas semanas a visita de uma missão do Ministério do Comércio da China. O grupo vem ao País para retomar as negociações para um acordo de restrição voluntária das exportações de produtos chineses para o Brasil. Na avaliação de Ramalho, a negociação terá, em diversos setores, um efeito muito mais rápido do que as salvaguardas. 'Acho perfeitamente possível que os dois países fechem um acordo para a restrição voluntária. Para a indústria brasileira, a vantagem é ter aplicação mais rápida.' Colaborou Paula Puliti