Título: MP rastreia gastos de Maluf com marketing
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/10/2005, Nacional, p. A17

Depois de mandar Paulo Maluf para a prisão, o Ministério Público rastreia os beneficiários do dinheiro que o ex-prefeito investiu em marketing nas campanhas de 1998 e 2000. Os primeiros alvos são Duda Mendonça e Nelson Biondi, publicitários que trabalharam para Maluf nas eleições para o governo do Estado (1998) e para a Prefeitura de São Paulo (2000). Eles teriam recebido por meio da conta Chanani, em Nova York. operada pelo doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, maior acusador de Maluf. O promotor de Justiça Silvio Marques pediu à Promotoria Distrital de Manhattan abertura do sigilo bancário internacional de Duda e de Biondi, que ontem foi espontaneamente ao MP para depor. Marques suspeita que Maluf desviou do Tesouro paulistano o montante que desembolsou para as duas campanhas.

Biondi negou enfaticamente ter recebido da Chanani. "Eu não trabalhei para o Maluf em 1998, ajudei o Duda na preparação do candidato nos debates", declarou Biondi. "Não significa que eu precisasse receber. Para preparar alguém não é coisa que eu fizesse sozinho. Era uma equipe e que eu saiba dali ninguém recebia. Eu fiz de graça sim, investi em mim nessa história para poder fazer a campanha do Maluf em 2000, essa eu fiz no primeiro turno."

Birigüi, o doleiro, afirmou - à Polícia Federal, à Procuradoria da República e à Justiça - que, em 1998, fez 7 pagamentos de US$ 840 mil cada, perfazendo US$ 5, 88 milhões para a conta Eleven no Citibank NY, controlada pela offshore Heritage Finance Trust. O valor teria sido destinado a Duda e a Biondi. Birigüi atribuiu a Flávio Maluf, filho do ex-prefeito, a informação sobre os publicitários. "Nunca conversei com Duda ou Biondi", admitiu o doleiro.

"Nunca tive conta no exterior", insistiu Biondi. Dizendo-se constrangido e indignado com a denúncia, ele autorizou prontamente o acesso a seus dados protegidos pelo sigilo. "Não tenho conta no exterior, mas podem procurar. Nunca recebi nada com Duda. Não conheço o doleiro, nem a conta Heritage."

A Heritage, que seria controlada por Duda, tem ligação com uma empresa suíça, a Medicompex, sócia da Brainbox - companhia brasileira da qual Biondi é sócio. "Não posso fazer juízo de valor sobre o relato de Biondi", anotou o promotor Marques. "É bom que fique claro que o doleiro alegou que Flávio Maluf é quem disse que ele (Biondi) teria recebido."

Ontem, o ministro Gilson Dipp, do Superior Tribunal de Justiça, rejeitou prisão domiciliar para Maluf, detido na PF há 31 dias. Ele concluiu que o pedido, de um advogado que não representa o ex-prefeito, não estava devidamente instruído.