Título: Desigualdade entre sexos dificulta desenvolvimento
Autor: Carol Knoploch
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/10/2005, Vida&, p. A24

A pobreza do mundo não vai ser erradicada enquanto perdurarem as diferenças entre homens e mulheres no acesso a educação, saúde, mercado de trabalho e patrimônio, alerta o Fundo de População das Nações Unidas ( Unfpa) . No Relatório sobre a Situação da População Mundial 2005, lançado ontem, a agência da ONU alerta governantes para a necessidade de investir em políticas que garantam tal igualdade. "O mundo está demorando muito para cumprir um compromisso feito há 60 anos", afirma a diretora no Brasil da Unfpa, Tânia Patriota.

Os exemplos da desigualdade são inúmeros. Metade das mulheres no mundo não tem emprego, ante 30% dos homens. Quase dois terços dos analfabetos adultos do mundo são mulheres. Todo ano, 529 mil mulheres morrem de causas relacionadas à gravidez. Pelos cálculos da Unfpa, mais de 250 milhões de anos de vida produtiva são perdidos no mundo em razão da morte de mulheres e meninas em decorrência de problemas relacionados à gravidez e ao aborto.

"Muitos líderes defendem o livre comércio para estimular o crescimento econômico. Chegou o momento de conclamar ações que liberem as mulheres da discriminação, da violência e dos problemas de saúde que elas enfrentam todos os dias", afirmou, na carta de lançamento do relatório, a diretora-executiva da Unfpa, Thoraya Ahmed Obaid.

Para reduzir tal desigualdade, a agência diz ser imprescindível que governos façam investimentos em educação e saúde reprodutiva. Motivos não faltam. O documento observa que em grupos femininos com maior escolaridade há menos mortalidade infantil. Mulheres com maior escolaridade também se casam mais tarde, têm chance de desenvolver uma atividade produtiva mais rentável e, com isso, promover melhores condições de vida para si e sua família. "A experiência mostra que mulheres investem mais nos filhos. Sem falar que, com maior escolaridade, têm maior poder de decisão sobre o próprio destino", afirma Tânia.

A diretora da Unfpa elogiou o desempenho do Brasil na área educacional, na qual mulheres já apresentam níveis de escolaridade maiores que os dos homens. Ela elogia também a criação de um programa de saúde reprodutiva, que tem entre seus objetivos a oferta de métodos contraceptivos à população. Mas observa que, mesmo com tais medidas, a desigualdade é ainda marcante no País.

Estudos demonstram que, mesmo com nível igual ou superior ao do homem, a mulher brasileira ganha menos. Índices de morte materna também são considerados extremamente altos. Tânia observa que tais índices poderiam ser reduzidos caso o atendimento a mulheres com complicações de aborto fosse melhorado. Ela considera que a reavaliação da legislação sobre o tema - que hoje tramita no Congresso - e a eventual descriminação da interrupção da gravidez poderiam ter um impacto positivo nos índices de mortalidade.

O relatório também adverte para a necessidade de ampliar políticas para reduzir a violência a que hoje ela está suscetível. Pelos cálculos da Unfpa, uma em cada três mulheres do mundo será vítima de algum tipo de violência.