Título: Vacina tem controle do governo
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/10/2005, Economia & Negócios, p. B4

Da revenda para trás, a qualidade da vacina contra a febre aftosa passa por um duplo controle: dos próprios fabricantes e do governo. A afirmação é do presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal (Sindan), Emílio Salani. Ontem, autoridades do governo de Mato Grosso do Sul chegaram a dizer que o gado contaminado havia tomado vacina três vezes, pondo em dúvida a qualidade do produto. Salani tem outro argumento para contestar a afirmação das autoridades do governo de Mato Grosso do Sul de que os animais doentes teriam sido vacinados três vezes. Se, de fato, os animais contaminados são bezerros e têm, portanto, de oito a dez meses de idade, e como a vacina é dada após o bezerro completar seis meses, eles não poderiam ter sido vacinados três vezes. "Pelas minhas contas, esses animais estariam prestes a completar a segunda vacinação agora."

De toda forma, o representante da indústria enfatiza que 100% da vacina que vai para o campo é testada. Os seis fabricantes do produto - Bayer, Merial, Pfizer, Schering, Intervest e Vallee - produzem as vacinas, fazem os testes para validar a qualidade e as enviam para um centro de selagem que fica em Vinhedo, no interior do Estado de São Paulo.

Nesse centro, o governo coleta, de 15 em 15 dias, amostra do produto de todos os lotes e a envia ao laboratório de referência agropecuária, que fica em Porto Alegre. Salani explica que os testes das indústrias são repetidos e, mediante aprovação do governo, a vacina recebe um selo de garantia. A validade do produto é por dois anos.

"Quando ocorre um evento infeliz como esse, é possível ter um rastreamento do produto até a entrega na revenda", observa. Segundo o presidente do Sindan, as vacinas sempre são transportadas a uma temperatura entre 8 e 12 graus centígrados. "Ao chegar à cooperativa, existem fiscais do Ministério da Agricultura conferindo as condições de transporte."

A partir da revenda, a vacina segue para a propriedade rural, onde a aplicação corre por conta do produtor. O que não se sabe, portanto, é como foi feita a vacinação e o grau de infecção da doença. O custo médio de uma vacina gira em torno de R$ 1. Levando-se em conta que o abate do bovino de corte ocorre com três anos de idade, o animal recebe seis doses da vacina a vida inteira. No caso de um touro reprodutor que viva 20 anos, serão aplicadas 40 doses, duas por ano.

ERRADICAÇÃO

A febre aftosa é uma doença causada por sete tipos diferentes de vírus. É altamente contagiosa e pode dizimar rebanhos bovinos, suínos e caprinos. "Ela atinge animais de casco rachado", observa Salani. Nesse caso, os eqüinos, por exemplo, não correm risco. A veterinária do centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Animal do Instituto Biológico de São Paulo, Edviges Maristela Pituco, esclarece que a febre aftosa não afeta diretamente a saúde humana.

Salani diz que , apesar dos focos recentes, a doença passou por um forte processo de erradicação nos últimos cinco anos.