Título: Pecuaristas reagem e dizem que responsabilidade é do governo
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2005, Economia & Negócios, p. B1

Pecuaristas reagiram com indignação às declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que responsabilizou os criadores de gado pela vacinação e sanidade dos rebanhos, em entrevista concedida em Portugal. 'Foi uma declaração infeliz e imprópria', disse o diretorexecutivo da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Eduardo Soares de Camargo. 'O governo é omisso, frouxo e desarticulado porque teria de cuidar das barreiras sanitárias e controlar fronteiras.' Segundo Camargo, o presidente Lula não pode culpar os produtores pela volta da febre aftosa. 'Se alguém tiver culpa, é o governo, pois temos um grave problema de fronteira que não é combatido', argumentou. Camargo afirma que Eldorado (MS), onde surgiu o foco da febre aftosa, fica perto do Paraguai, onde o gado é barato e não tem controle sanitário. Isso facilitaria o transporte de bois para o lado brasileiro, onde ocorreriam os abates. 'O pecuarista brasileiro é vacinador - o presidente deveria olhar para os índices de vacinação, que são muito altos', disse Cesário Ramalho da Silva, vicepresidente da SRB. 'Faltou sensibilidade ao presidente, que se manifestou de forma agressiva contra seus companheiros brasileiros que geraram US$ 3,5 bilhões em exportações.' Todos os pecuaristas afirmam que a falta de verbas para a defesa sanitária, e não a negligência dos produtores, foi a principal causa para o ressurgimento da aftosa. A defesa sani Dos R$ 167 milhões orçados, defesa sanitária só recebeu R$ 90 milhões tária em todo o País deveria receber R$ 167 milhões este ano, de acordo com o orçamento aprovado pelo Congresso. Mas o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, conseguiu garantir apenas R$ 90,8 milhões, dos quais R$ 55 milhões especificamente para defesa animal. A área econômica queria destinar R$ 37 milhões. O presidente da comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, Ronaldo Caiado (PFLGO), classificou de atitude 'criminosa' o corte de verba da defesa agropecuária e disse que é responsabilidade do governo fiscalizar a vacinação dos rebanhos, controlar os animais na fronteira e avaliar a qualidade das vacinas oferecida aos produtores. 'A declaração do presidente foi desastrosa. Ele quer encontra um boi de piranha responsável por um erro seu', disse o deputado. Para Caiado, ao deixar a defesa sanitária sem recursos, 'o governo foge de uma responsabilidade que é sua'. Para o presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte, Antenor Nogueira, os pecuaristas devem ser punidos de forma exemplar se for constatado que faltou vacinação. 'Mas isso não muda a situação de falta de verbas na defesa sanitária', disse. 'O presidente está arrumando desculpas, tentando desviar o foco.' FAZENDA VEZOZZO Os proprietários da Fazenda Vezozzo, onde foi detectado o foco de febre aftosa, não quiseram polemizar com o presidente Lula. Eles afirmam que a vacinação do gado da fazenda é feita com acompanhamento de um veterinário. 'Nossa fazenda é altamente técnica e conta com uma equipe experiente', limitouse a dizer Mariza, uma das administradoras. A fazenda pertence a José Vezozzo e à sua esposa Emilia, mas é administrada pelos filhos Mariza e Luiz Henrique. A família quer que os técnicos do governo esclareçam como foi possível o gado ter sido contaminado, já que, garante, a fazenda segue criteriosamente todas as determinações fitossanitárias. A família ainda não fez um levantamento dos prejuízos causados pelo abate das 582 cabeças de gado.