Título: Lula culpa produtores por aftosa
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2005, Economia & Negócios, p. B1

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assegurou ontem que o foco de aftosa em Mato Grosso do Sul não ocorreu por falta de recursos para fiscalizar o gado e responsabilizou os produtores. 'Numa hierarquia de responsabilidade, o primeiro responsável pela vacinação do rebanho, além da responsabilidade do governo de fiscalizar, é o proprietário, que sabe que precisa fiscalizar porque aquilo é seu patrimônio, seu ganha-pão, o produto com que ele faz a sua vida profissional', declarou.

'Portanto, ele (o produtor) tem de cuidar porque quando alguém age com irresponsabilidade quem paga são aqueles que agiram com responsabilidade.' As declarações do presidente Lula foram dadas numa entrevista conjunta, após reunião com o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates.

Lula deu ao português explicações detalhadas sobre as providências já adotadas pelo Brasil, como o sacrifício dos animais doentes e a implantação de um cordão sanitário na região afetada, e pediu apoio para reverter o embargo à carne brasileira na União Européia.

O primeiro-ministro português prometeu transmitir as informações aos demais países, detalhando as iniciativas do governo brasileiro 'para dar confiança às instituições e às organizações'. Portugal ocupa a presidência executiva da União Européia.

Ao falar da responsabilidade sobre o controle do rebanho, o presidente Lula comentou ainda que vai pedir ao Congresso que apresse a votação de um projeto de lei, já em tramitação, que pune os criadores que não vacinam seus rebanhos, impedindo-os de acesso a financiamentos oficiais por três anos.

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, não quis comentar as afirmações de Lula.

Mais cedo, ele tinha ido na direção oposta, ao afirmar que os produtores sul-mato-grossenses são sérios. 'Foram eles que fizeram o Brasil crescer na exportação de carne e soja.' Depois de apontar responsabilidades, o presidente amenizou o tom e afirmou que não queria acusar ninguém antes de saber os motivos do ressurgimento da doença. 'Antes de acusar, queremos apurar.'

Lula assegurou que 'tudo será investigado até o fim' para evitar prejulgar os responsáveis, sem citar as suspeitas de que o foco pode ter se originado num assentamento do Movimento dos Sem-Terra (MST) ou de animais contrabandeados do Paraguai.

'Não quero condenar nem absolver ninguém. O que queremos é investigar e saber o que aconteceu', avisou, ao comentar que há quem diga que o gado foi vacinado, há quem diga que não. 'O Brasil tem mais gado do que pessoas porque tem 200 milhões de cabeças', disse Lula, ao insistir que não faltaram recursos para o setor.

'O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, fez um pronunciamento e em nenhum momento ele citou a falta de recursos, até porque é uma coisa impensável, num rebanho de 582 cabeças (onde houve o foco da doença) você imaginar que uma coisa que ia custar R$ 800 poderia ter sido causada por falta de dinheiro.'