Título: Assentamentos do MST sob investigação
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2005, Economia & Negócios, p. B4

Assentados do Movimento dos Trabalhadores Rurais SemTerra (MST) no município de Japorã, a 35 quilômetros da área em que foi localizado, segunda-feira, um foco de febre aftosa, são o centro das investigações sobre a origem da contaminação. No local, foram encontradas vacas leiteiras afetadas pelo vírus, mas medidas dependerão das análises do sangue colhido dos bovinos sob suspeita, o que ocorrerá na próxima semana, segundo informações do secretário estadual de Produção, Dagoberto Nogueira Filho. Para os técnicos da Agência Estadual de Defesa Sanitária, Vegetal e Animal, as suspeitas não recaem só sobre o assentamento do MST em Japorã, vizinho de Eldorado, no sul de Mato Grosso do Sul. Está sendo feita uma rigorosa inspeção em todos os assentamentos do Programa Nacional de Reforma Agrária nos cinco municípios interditados pela vigilância sanitária - Eldorado, Iguatemi, Itaquiraí, Japorã e Mundo Novo.

Ontem, em Belo Horizonte, o coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile, engrossou as críticas à área econômica do governo federal.

Para ele, 'o caso da0 aftosa é outra ponta do iceberg' da falta de investimentos em programas sociais. Stédile atacou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que, disse ele, é quem 'está mandando' no governo Lula. Sobre a suspeita de que assentamentos do MST em municípios vizinhos a Eldorado podem representar a origem da doença, ele disse que agora 'não importa perguntar onde começou o foco'.

O governo de Mato Grosso do Sul decretou 'emergência sanitária' na área inspecionada pelos técnicos e policiais do Serviço de Inteligência do Departamento de Operações de Fronteira (DOF).

Os técnicos examinam a qualidade dos rebanhos e os policiais procuram pistas de crimes contra a economia, como contrabando, por causa das características da região e da facilidade no trânsito de animais vindos do Paraguai.

GADO DE CORDA

A região tem mais de 700 quilômetros de fronteira seca, aberta e sem vigilância. Essa condição facilita a comercialização entre os assentados e proprietários paraguaios do chamado 'gado de corda', criado sem as mínimas condições sanitárias, principalmente vacas leiteiras.

Segundo os primeiros resultados do trabalho policial, pelo menos 500 animais do gênero são mensalmente comprados e revendidos pelos assentados na região. Onze assentamentos nos cinco municípios sob suspeita estão na mira da força-tarefa antiaftosa.

O pessoal envolvido na missão apurou que no comércio legalizado uma vaca leiteira de boa qualidade custa de R$ 800 a R$ 1 mil; no comércio ilegal uma vaca criada solta na rua ou em fundo de quintal custa no máximo R$ 300.

Além dos prejuízos com os embargos no comércio da carne bovina e derivados do leite, pequenos produtores que dependem exclusivamente da venda do leite estão desesperados.

Ontem, a prefeita de Eldorado, Mara Caseiro (PDT), informou que cerca de 200 famílias assentadas no município sobrevivem da pecuária leiteira e estão impedidas de vender o produto por tempo indeterminado.

Os frigoríficos do Estado suspenderam as compras por causa do foco e do conseqüente embargo à carne por mais 30 países. A expectativa é que o governo esclareça a origem do foco na Fazenda Vezozzo, onde 582 animais foram sacrificados.

Por enquanto, o reembolso por prejuízos está acertado só para os proprietários dessa fazenda.