Título: Com embargo, carne mais barata
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2005, Economia & Negócios, p. B6

A carne bovina deve ficar mais barata para o consumidor a partir da semana que vem por causa do foco de febre aftosa encontrado em Mato Grosso do Sul, que provocou embargo das exportações brasileiras do produto para cerca de 30 países. A previsão é do Sindicato do Comércio Varejista de Carnes Frescas do Estado de São Paulo, que representa os açougues. 'O impacto está criado: haverá maior oferta de carne no mercado doméstico e a tendência é de os preços recuarem para o consumidor, afirma o presidente da entidade, Manuel Henrique Farias Ramos. Da oferta total de carne bovina, 80% ficam no mercado doméstico e 20% são exportados.

Ramos observa que o mercado interno teve reajuste de preços de cerca de 10% na semana passada em razão do início da entressafra, período de menor oferta. Mas, diante do novo cenário, esse aumento deverá ser revertido. Ontem, o quilo da carne de primeira (traseiro), de melhor qualidade, era cotado, em média, por R$ 4,80 no varejo, ante R$ 4,30 da semana passada em São Paulo. A alta é de 11,6%.

O aumento, diz Ramos, reflete o reajuste no preço da arroba do boi antes da descoberta do foco de febre aftosa. 'Hoje (ontem), no entanto, os negócios entre os pecuaristas e os grandes frigoríficos, que são exportadores, estão travados. O pecuarista está tentando segurar o gado', observa.

Ele pondera que os frigoríficos médios, que trabalham com estoques menores, continuaram a transacionar o produto.

INFLAÇÃO

Um recuo de preços no mercado doméstico é positivo especialmente para a inflação, diz o presidente do Conselho Regio nal de Economia de São Paulo (Corecon-SP) e especialista em preços, Heron do Carmo.

'A aftosa pode ajudar a atingir a meta de inflação de 5,1% traçada para este ano e reforça a tendência para a queda dos juros', diz o economista.

É que a carne bovina, além de ter um peso importante nos índices de preços - no índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe), por exemplo, responde por 2,51% -, influencia as cotações de outros tipos de carnes, como a suína e a de aves. Com a maior oferta doméstica, a perspectiva é que o preço da carne em geral recue. Na primeira quadrissemana deste mês, o preço da carne bovina subiu 1,73%; o da carne suína, 2,74%; e a de frango, 10,76%.

Além de afetar as exportações, o episódio da aftosa agrava uma situação no mercado interno que já não era confortável para os pecuaristas.

A demanda doméstica neste ano não dá sinais de crescimento por conta da renda estagnada e o nível de emprego não ter registrado grandes avanços.

O consumo per capita de carne bovina gira em torno de 36 quilos por ano. A maior marca foi atingida no Plano Real, em 1994, quando o consumo foi de 40 quilos