Título: Alternativa à cisão da Varig
Autor: Marcelo Kischinhevsky e Rafael Rosas
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2005, Economia & Negócios, p. A17

Surgiu a primeira proposta concreta, envolvendo dinheiro novo, para a reestruturação da Varig. O empresário Nelson Tanure, da Docas Investimentos, controladora do Jornal do Brasil e da Gazeta Mercantil, apresentou ontem seu plano de recuperação da mais tradicional companhia aérea do país, que envolve uma capitalização no valor de US$ 360 milhões, com a participação de credores, de funcionários e do instituto de previdência Aerus. De imediato, Docas se compromete a injetar US$ 90 milhões na empresa, que não seria fatiada, como propôs recentemente o Conselho de Administração presidido por David Zylbersztajn. O plano foi exposto, no auditório da Corregedoria do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, a uma platéia composta de funcionários, sindicalistas, dirigentes da Fundação Ruben Berta (FRB, maior acionista da Varig), Aerus e magistrados escolhidos pela presidência do TJ-RJ para acompanhar o processo de recuperação da empresa.

A estratégia de Docas prevê investidas em duas frentes: o aporte de US$ 90 milhões, correspondendo a cerca de 20% do capital do Grupo Varig, e a aquisição de até 25% da Fundação Ruben Berta Participações (FRB-Par, braço financeiro da controladora da companhia aérea), por US$ 100 milhões. No caso da FRB-Par, seriam desembolsados mais US$ 12 milhões referentes ao controle do capital e da gestão da holding, incluindo poderes para indicar a maioria do Conselho Administrativo durante 10 anos. Tanure defendeu, contudo, que os recursos aportados na FRB-Par sejam reinvestidos na recuperação do Grupo Varig.

- É preciso selar um pacto de governança entre todos os envolvidos, Fundação Ruben Berta, Aerus, funcionários, credores, sindicatos. A essência do sucesso do plano passa por esse pacto. São os conflitos que estão matando a companhia - afirmou o empresário.

A capitalização de US$ 360 milhões equivaleria a 80% do capital da companhia, que seria preservada, sem venda de subsidiárias rentáveis. No total, Docas desembolsaria pelo menos US$ 202 milhões para garantir o controle do Grupo Varig e tocar a recuperação, com prazo de 60 meses.

- Serão cinco anos de sangue, suor e lágrimas, mas a Varig é grande e vai superar as dificuldades. Docas tem experiência em gestão de empresas em crise - afirmou Tanure.

A proposta divulgada ontem apresenta diferenças importantes em relação ao plano de recuperação entregue na semana passada pelo atual Conselho de Administração da Varig ao TJ-RJ.

Enquanto o projeto dos atuais administradores da companhia aérea prevê a concentração das operações em São Paulo, a demissão de 13% dos funcionários (cerca de 1.200) e a divisão da empresa em duas, Docas acena com a manutenção dos empregos, a permanência da base operacional no Rio de Janeiro e a recuperação judicial sem cisão da companhia. De acordo com Tanure, a idéia de dividir a Varig enfrenta a desconfiança dos credores públicos e privados.

O empresário elogiou ainda o corpo funcional da empresa e propôs que parte do pagamento dos salários possa vir a ser feito, de forma opcional, em ações da empresa.

- Os funcionários são um patrimônio fantástico. Os débitos poderão ser quitados com a troca de salários devidos por ações da empresa, de acordo com a aceitação e o nível salarial. Em relação à concentração das operações em São Paulo, Guarulhos hoje é um aeroporto muito congestionado, próximo à saturação - disse Tanure.

Outro item do plano é a restauração de 14 aeronaves paradas por falta de manutenção. A meta, afirmou Tanure, é chegar a 2010 com 120 aviões em operação, a exemplo do que ocorria em 2002. Hoje, são apenas 64.

O empresário ressaltou ainda a experiência da Docas Investimentos na recuperação de empresas e defendeu a manutenção das subsidiárias da Varig com maior potencial. Com isso, mira na proposta de venda da VarigLog para o fundo americano de private equity Matlin Patterson, por US$ 38 milhões em recursos próprios.

- Poderíamos até vender parte de uma subsidiária, mas sem abrir mão do controle - ressaltou Tanure.

A proposta de venda da VarigLog aguarda as autorizações do Colégio Deliberante da Ruben Berta e do juiz responsável pela 8ª Vara Empresarial, Alexander Macedo. O plano apresentado por Docas ainda será submetido ao Colégio Deliberante da FRB.