Título: ´Land Rover também é caixa 2?´
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2005, Nacional, p. A5

Um dia após o presidente eleito do PT, Ricardo Berzoini, ter dito que o caixa 2 das campanhas eleitorais faz parte do folclore político, Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou ontem que é necessário fazer distinção entre irregularidade financeira e arrecadação de dinheiro de corrupção. Além de integrante do STF, Mendes é vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 'Eu espero que façam as devidas distinções. O que é caixa 2 de campanha? Dinheiro vindo de corrupção é também caixa 2 de campanha? Land Rover oferecido a dirigente partidário também é caixa 2?', disse Mendes, lembrando o carro que o exsecretário-geral do PT Silvio Pereira recebeu de presente de uma empreiteira. 'Espero que façam as devidas distinções entre mera irregularidade financeira de campanha e dinheiro de corrupção.'

As declarações de Berzoini repercutiram negativamente no TSE e na comissão de juristas formada pelo tribunal para propor mudanças na legislação eleitoral e tentar inibir a prática de crimes como o caixa 2.

O entendimento da comissão é de que caixa 2 é uma irregularidade gravíssima, que caracteriza crime, além de ser um comportamento antiético.

Integrante da comissão e procurador-geral no Tribunal de Contas da União (TCU), Lucas Furtado disse que 'um dos piores crimes é o eleitoral porque atenta contra a democracia'.

E acrescentou: 'Não se pode considerar como normal algo que a legislação considera crime. A rigor, o crime eleitoral parece que não tem vítima. Esses crimes têm normalmente baixa reprovação social, mas não quer dizer que eles não sejam um dos crimes mais danosos à democracia.'