Título: Wagner: fim do caixa 2 é possível
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2005, Nacional, p. A5

Foi uma polêmica só. Até no governo as afirmações do novo presidente do PT, Ricardo Berzoini, recomendando o fim da hipocrisia quando o assunto é caixa 2 de campanhas eleitorais, provocaram reações de contrariedade. 'Eu acho que é um exagero dizer que a prática do caixa 2 não acaba enquanto não houver financiamento público de campanha', disse o ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, filiado ao PT.

'Essas coisas não se contrapõem.' Em entrevista ao Estado, publicada ontem, Berzoini afirmou que, se os políticos não enfrentarem esse problema, recursos 'não-contabilizados' continuarão a abastecer a próxima eleição, tanto no PT como em outros partidos.

No seu diagnóstico, somente quando as regras do jogo mudarem - e for adotado o financiamento público, com voto em lista para formar as bancadas parlamentares -, o caixa 2 deixará de ser prática comum.

Na tarde de ontem, em sua primeira coletiva como presidente do PT, Ricardo Berzoini voltou ao assunto: defendeu a aprovação do financiamento público ainda este ano, para valer na disputa de 2006. 'O ideal seria um acordo no Congresso', insistiu.

Berzoini definiu o caixa 2 como uma ilegalidade 'relativamente simples' de ser praticada e cobrou maior aparelhamento da Justiça para fiscalizar as prestações de contas dos candidatos.

Jaques Wagner lembrou, porém, que não há consenso para aprovar agora uma ampla reforma eleitoral. 'O máximo que se pode conseguir hoje é a limitação de gastos de campanha', argumentou. O ministro disse também ser favorável ao tipo de financiamento defendido por Berzoini porque diminuiria a desigualdade entre os concorrentes.

Ressalvou, no entanto, que se o sistema de fiscalização não for aprimorado, não se deve alimentar ilusões. 'Mudar a lei eleitoral e dificultar a circulação de dinheiro não declarado é uma necessidade que se impõe', observou Jaques Wagner.

'Mas não devemos depender disso para acabar com o caixa 2, até porque quem quer driblar a lei pode fazer caixa 2 com financiamento público também.'