Título: Berzoini ataca FHC e põe PT em campo para 2006
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2005, Nacional, p. A5

Encerrada a eleição interna, o PT começa a azeitar o discurso de defesa da reeleição do presidente Lula. Em sua primeira entrevista coletiva como presidente eleito do PT, o deputado Ricardo Berzoini (SP) fez duras críticas ao governo FHC. 'Temos elementos suficientes para enfrentar qualquer debate com a oposição, inclusive no campo ético', afirmou.

Segundo ele, a nova direção do partido será 'extremamente combativa' e, 'sem perder a autocrítica', não aceitará 'o nível de linchamento político que alguns querem cometer contra PT'. 'O que se investiga ou se discute hoje não tem comparação, por exemplo, com o processo de compra de votos para aprovar a emenda da reeleição', afirmou.

'Muito menos com o processo nebuloso de articulação em torno das privatizações dos setores energético e telefônico.' Ele ainda levantou suspeitas sobre o fato de o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan ter conduzido o processo de compra do Banco Nacional pelo Unibanco, patrocinado pelo Proer, e hoje ocupar a presidência do conselho administrativo do banco.

Em entrevista ao Estado publicada ontem, Berzoini acusou a CPI do Proer, presidida pelo deputado Gustavo Fruet (PSDBPR), de ser a 'mais chapa-branca da história da República'.

O tucano rebateu: 'Berzoini foi no mínimo omisso, pois mesmo votando contra o relatório final, não levantou à época qualquer objeção aos trabalhos da CPI', declarou Fruet. 'Mais adequado seria dizer que (Berzoini) age com covardia ao criticar tardiamente um trabalho que antes elogiara.

É mais um dirigente partidário que não sustenta o que fala e o que faz.' O destacou ter denunciado 'várias vezes o comportamento da base do governo FHC' na CPI do Proer.

'Tanto que não pudemos desvendar a negociação entre o Banco Nacional e o Unibanco, e hoje temos a coincidência de que o então ministro da Fazenda se tornou presidente do conselho de administração do Unibanco', disse Berzoini. 'É no mínimo estranho.'

Malan não foi encontrado para comentar as declarações do petista. Para o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), o governo e o PT preparam o caminho para que os deputados petistas envolvidos no escândalo do mensalão renunciem ao mandato e saiam candidatos em 2006.

Citando a entrevista ao Estado, Virgílio criticou a defesa que Berzoini faz dos companheiros ao declarar que 'não há provas' de que eles embolsaram o dinheiro supostamente arrecadado para as campanhas.

'A Comissão de Ética do PT entrou em recesso. O PT agora admite tudo: de estupro a assalto a banco', provocou. Ele repetiu ainda que os petistas tentam confundir a opinião pública sobre as investigações para transformar o caso em pizza. Apesar da proximidade das eleições e o provável acirramento da disputa política, Berzoini destacou ser possível manter aberto o diálogo para 'temas nacionais'.

Sobre os aliados em 2006, insistiu que o PT não deve impor vetos 'prévios' e admitiu reproduzir a atual coalizão que sustenta o governo Lula. Berzoini afirmou que o extesoureiro Delúbio Soares deve ser expulso dia 22 por 'gestão temerária e falta de prestação de contas', e não relacionadas ao mensalão.

Ainda falta apurar 2,8% dos votos do segundo turno do PT, realizado no domingo. Até agora, Berzoini soma 113.130 votos (51,6%) e Raul Pont, da Democracia Socialista, 106.224 (48,4%).