Título: Delmonte não concluiu laudo complementar sobre Daniel
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2005, Nacional, p. A6

Carlos Delmonte, o legista, não concluiu sua última missão - o laudo complementar sobre o assassinato do prefeito Celso Daniel. Há 50 dias, ele estava empenhado na elaboração de um documento solicitado pelos promotores criminais de Santo André, que conduzem a investigação sobre a morte de Daniel. Delmonte foi autor da primeira necropsia no prefeito. Especialistas em combate à corrupção e fraudes contra o Tesouro, os promotores Amaro José Thomé Filho, Adriana Ribeiro Soares de Morais e Roberto Wider Filho pediram a Delmonte, em 16 de agosto, resposta para 14 'quesitos suplementares'. Naquele dia, o perito fez longo depoimento ao Ministério Público. Denunciou sinais de torturas no corpo do prefeito, que levou oito tiros de arma de fogo. Revelou, também, ter sido censurado e advertido por superiores, quando anunciou sua descoberta.

Os promotores queriam saber se 'foram observadas outras fraturas (em Celso Daniel), além das que foram relatadas no laudo original; quais elementos permitiram o diagnóstico de tortura; se o exame das roupas mostra compatibilidade com as lesões descritas no laudo'.

Também indagavam se os anexos do laudo necroscópico, e as radiografias, foram localizados; se é possível estabelecer as trajetórias dos disparos que atingiram a vítima; e 'outras considerações entendidas convenientes e oportunas'. Questionavam se 'a quantidade de sangue encontrado no local (onde o corpo foi localizado) é compatível com a intensidade das lesões descritas no laudo'.

Ontem, intrigados com a morte misteriosa do perito, os promotores decidiram ir à Justiça para tentar localizar o laudo complementar que Delmonte estava produzindo.

Os promotores querem autorização para busca e apreensão em dois endereços do legista, o escritório da Rua Botucatu, 591, 17.º andar, e sua sala na sede do IML. 'O legista relatou ser detentor de outros documentos e fotos que interessam ao esclarecimento da verdade a respeito do crime (morte de Daniel)', sustentam os promotores. Eles temem que os papéis desapareçam.

O promotor Amaro Thomé considera que 'existe a possibilidade de Delmonte ter sido vítima de intoxicação'. Sobre a carta que o perito deixou, Amaro pede exame grafológico. O promotor quer saber se Delmonte fez o texto 'de forma voluntária ou se alguém o constrangeu a fazer as anotações'.